terça-feira, 16 de junho de 2009

UM ESTRANHO CASO...

Sou um estranho caso, sim. Resolvi prestar vestibular e fazer uma nova faculdade numa idade em que a maioria das pessoas, após décadas de trabalho, está se aposentando para curtir a vida e não pensar mais em estudar. Nada contra. É o descanso merecido de quem já batalhou muito pela vida afora. Eu também pensava em fazer isso. Mas ao atingir essa idade, percebi que eu ainda tinha uma porção de projetos, uma porção de coisas que eu ainda queria aprender e pensei: “Por que não? O que me impede? Se eu quero aprender e existe quem queira e possa me ensinar, por que não? Vamos lá!” E eu fui. Resultado: sou uma aluna de faculdade diferente; sou mais velha do que a maioria dos pais dos meus colegas e mais velha do que a maioria dos meus professores. Mas quando estou lá, no meio dos novos amigos que fiz, no meio dos professores que têm o que me dizer, nem me lembro disso. Eu me sinto bem. Sei que muita gente me olha e pensa: “Por que alguém com essa idade ainda quer estudar? O que ela vai fazer com esse diploma quando conseguir chegar lá?” Eu não sei responder. Talvez eu consiga fazer algo de bom e até diferente daquilo que irão fazer aqueles que saem da faculdade com 20 e poucos anos, aliando os meus estudos atuais à experiência que já acumulei ao longo das décadas a mais que vivi. Talvez não. Quem sabe…
Mas prefiro não antecipar nada. Prefiro não pensar no que vai acontecer daqui a um, dois ou dez anos. Apenas quero viver um dia de cada vez, tirando de cada um o prazer de ainda ter a chance de aprender coisas novas. Sim, esse é um grande prazer. Dou um imenso valor ao fato de ainda poder estudar, agradeço todos os dias pela chance que tenho de fazer novos amigos, de conhecer as pessoas incríveis que conheci e continuo conhecendo ao longo dessa jornada: colegas, professores e tantas mais, que cruzam meu caminho porque estou por lá e que eu jamais iria conhecer de outra forma. Minha embalagem envelheceu, não há como negar, mas a minha vontade de aprender, não! Ainda me sinto com a mesma ânsia de saber que tinha aos 5, 10, 20, 30, 40… E não se trata de aprender para guardar para mim, aprender simplesmente para acumular mais conhecimento e me sentir mais " inteligente". Não é nada disso. Trata-se da vontade de aprender para ter mais o que ensinar. Sempre gostei de ensinar e, fazendo um balanço da minha vida, percebo que passei quase toda ela fazendo exatamente isso. Adoro transmitir o que aprendo e, exatamente por isso, tenho um respeito enorme para com aqueles que me ensinam hoje o que um dia aprenderam. Eu os respeito, admiro e sou muito grata. E não falo só de professores; todos nesta vida têm algo a ensinar. Então percebo como o dia-a-dia é importante, como o fato de sair de casa, encontrar pessoas, conversar, viver, nos dá alento. E ninguém precisa esperar por um diploma para fazer isso. É algo que pode (e deve!) ser feito a cada dia de nossas vidas. Dividir, compartilhar o que sabemos. O que aprendo hoje, não só na sala de aula, mas também na convivência com as pessoas, é uma coisa a mais que posso ensinar amanhã. É o eterno aprender: aprender, como se fosse viver para sempre.
Enfim, como me sinto sempre disposta a aprender, acordo cedo todos os dias para ir à faculdade, estudo com prazer e aprendo muita coisa boa, às vezes me esqueço que minha embalagem denuncia minha idade cronológica. Lá no meu íntimo, muitas vezes me esqueço que meus cabelos estão ficando brancos e que meu rosto está ficando cheio de rugas, até que alguém me lembre (às vezes, com um simples olhar). Mas não tenho do que me queixar: meus amigos, em sua grande maioria, me tratam com muito respeito e carinho. Entre os amigos e professores que encontro regularmente, que já me conhecem há mais de três anos, eu fico totalmente à vontade. Mas não posso negar que a coisa fica estranha quando apareço em um novo grupo e enfrento mais uma vez os olhares de estranheza daqueles que me vêm pela primeira vez nessa situação de estudante de cabelos brancos. Senti-me assim em meio aos alunos que vão fazer intercâmbio. Isso também faz parte das coisas que tenho a chance de fazer e que vou aproveitar. 
Da mesma forma que estudo aqui no meu país, entre pessoas mais novas, vou estudar no exterior. Eu sei que vai começar tudo de novo. As pessoas vão me olhar daquele jeito estranho, tentando entender o que faço ali, de tanta gente mais jovem do que eu. Nessas horas, chego a ficar um pouco triste. Mas isso, de forma alguma vai diminuir minha vontade de aprender e de usufruir novas experiências tão importantes. Afinal, é impossível explicar para cada um que tenho muita disposição, que já estudei muitas coisas e quero continuar estudando, que tenho muita vontade de aprender e que ainda pretendo fazer muita coisa útil nesta vida. Deixo que me olhem e procurem suas próprias explicações. Desconsiderando os cabelos brancos e as rugas na face, esquecendo totalmente a embalagem, lá no fundo de minha massa cinzenta, ainda me sinto muito jovem. Prefiro pensar que sou um tipo de Benjamin Buttom: que estou ficando mais jovem a cada dia que passa, que vou ter muito tempo ainda para colocar em prática tudo o que aprendo hoje. É uma questão de vontade, de ânsia de viver e de aprender. É isso que nos torna mais jovens a cada dia.

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Escrito e publicado por Christine Jz.