sexta-feira, 21 de abril de 2017

MANUELA

21/04/2017



           Querida Manuela,



Tão querida, tão esperada! Desde que você nasceu, não consigo conter a emoção, pensando na alegria que você veio trazer a esta família e no quanto você é amada. De alguma forma, o fato de você ser mais uma mulher na família acabou me trazendo muitas reflexões, por isso, hoje eu resolvi falar de mulheres. Você despertou em mim alguma coisa muito forte e, por isso, achei que precisava escrever esta mensagem.

Escrevo a você por ser a mais nova mulher desta família. Outras meninas nasceram antes de você e não sei bem por que eu não escrevi algo assim para elas. Talvez eu não estivesse pronta ou tudo isso ainda não estivesse claro para mim (a gente está sempre aprendendo, não é mesmo?). Mas elas podem tomar a mensagem também para elas, se assim o desejarem. No fundo, vale para qualquer mulher.

Na verdade, ao refletir a esse respeito, percebi que eu gostaria de ter escrito esta carta também para a minha mãe, quando ela era ainda uma menina. Vou começar contando um pouco da história dela, porque tem tudo a ver com o que eu quero te dizer.

A minha mãe era uma mulher maravilhosa. Sei que todo mundo diz isso da sua mãe, por mais defeitos que ela tenha. Bom, a minha não era perfeita, logicamente, mas ela foi para mim um grande exemplo de mulher. Segundo ela sempre me contava (e eu adorava ouvir) ela foi uma criança alegre, cheia de energia e também de grandes sonhos. Eu sempre pensava nela, ao ouvir os relatos da infância, como uma criança esperta, corada, feliz e, acima de tudo, livre. Ela era muito inteligente e queria estudar, ir para a faculdade, ser uma médica, ou talvez uma advogada.

Acho muito importante ressaltar aqui que não coloco os desejos e sonhos de minha mãe como um modelo para todas as mulheres. A mensagem aqui é a de que qualquer coisa que uma mulher escolha ser (dona de casa, costureira, cozinheira, médica, engenheira, etc.) será algo maravilhoso, desde que seja a escolha dela. E minha mãe tinha feito a sua escolha: cursar uma universidade. Mas, ao chegar aos 10 anos de idade, aquela criança alegre e cheia de planos para o futuro teve sua primeira grande decepção: seu pai não permitiu que ela continuasse os estudos como ela planejara, simplesmente pelo fato de SER MULHER.

Vou abrir aqui um parêntese, pois não quero que fique a imagem de que seu pai, o meu avô, era um homem insensível e cruel, que destruiu deliberadamente os sonhos de sua filha. Ele a amava muito, amava todos os seus filhos igualmente, mas ele estava imerso numa sociedade cujos valores ele procurava seguir e que ditavam regras rígidas do que era adequado para homens e para mulheres. Ele apenas seguiu o que acreditava ser o melhor para todos. É importante dizer também que tenho ótimas lembranças dele (morávamos na mesma casa), sempre como uma pessoa muito amorosa com a família e atenta ao bem estar de todos. Ele foi uma presença importante na minha infância e acredito que ele tenha mudado de ideia a respeito das decisões que tomou com os filhos à medida que o tempo foi passando, pois ele era uma das pessoas que mais demonstrava orgulho com meus progressos nos estudos. Além disso, as filhas mulheres que vieram depois, puderam estudar mais do que minha mãe.

Enfim, talvez a vida tenha ensinado tudo isso a ele um pouco tarde e ele pode até ter refletido a respeito do seu equívoco sem, no entanto, nunca mais ter tocado no assunto com minha mãe. Se o tivesse feito, talvez ela o tivesse perdoado e tivesse assim amenizado a mágoa que carregou por toda a vida. Teria sido bom para os dois. Por isso é que a gente tem que aproveitar sempre o que a vida nos ensina, aprender sempre, refletir sobre nossos atos e, enquanto ainda é tempo, procurar resolver as questões com as pessoas que amamos. Muitas coisas seriam resolvidas antes de se tornarem grandes e doloridas demais pra gente mexer. Isso vale sobretudo para mim também, pois sei que não é fácil, mas vou tentando.

Mas, voltando à história de minha mãe, sim, ela teve que encerrar seus estudos após a escola primária e ir para escola de corte e costura que era, segundo seu pai, uma atividade mais adequada para uma menina. Enquanto isso, o irmão mais velho, por ser homem, foi mandado para a escola privada, sendo preparado para a faculdade de medicina, pois o sonho de seu pai era ter um filho médico (mas esse irmão parou de estudar depois do colégio, porque não era isso que ele queria ou sonhava para a vida dele). Isso deve ter aumentado ainda mais a ferida. A pergunta que sempre me fiz a esse respeito foi: Por que o sonho de meu avô não poderia ser o de ter UMA FILHA médica? Por que ele não respeitou o sonho de cada um?

O resultado disso tudo foi que, embora minha mãe tenha se tornado uma costureira extremamente competente e caprichosa (acho que ela era capaz de fazer bem qualquer coisa que quisesse), ela nunca deu valor àquele trabalho, que para ela tinha a carga da decepção, pois não tinha sido uma escolha dela.

Aquela menina sonhadora foi se tornando, dia após dia, uma moça triste e frustrada e, mais tarde, uma mulher decepcionada e magoada. Vale dizer que ela nunca parou de aprender. Foi ela que me ensinou muitas “palavras difíceis” quando eu era criança, pois ela gostava de ler e sabia falar e escrever muito bem, apesar de ter sido obrigada a deixar tão cedo o ensino formal. Tudo que eu aprendia, eu gostava de ensinar a ela, pois ela tinha uma sede insaciável de aprender, sempre se interessava por algo novo que pudesse acrescentar conhecimento. Sinto falta de minha aluna mais interessada, para quem eu sempre ia contando tudo o que aprendia! Sempre achei que seria difícil viver sem isso depois de sua partida. Não me enganei. Até hoje, é difícil, sim.

Mesmo tendo tido que se desviar de seus sonhos, minha mãe acabou por construir uma linda família e foi a mãe mais dedicada e amorosa que alguém poderia ter tido. Ela deu origem a essa família que se ama tanto e que cresceu, gerou novos frutos, agregando mais e mais pessoas que vivem e convivem bem, apesar de todas as diferenças e da diversidade inerente a qualquer grupo de seres humanos. Mesmo assim, ela sempre deixava claro que a destruição de seus sonhos tinha deixado marcas profundas e que faltava algo na sua vida: a realização do antigo desejo de fazer algo que ela sabia (e eu também, tenho certeza) que ela teria feito muito bem.

Ela teve quatro filhas mulheres e é sobre isso que quero falar, porque o que me chama a atenção hoje é a maneira como ela lidou com essas mulheres. Posso dar aqui o meu testemunho do que sua história representou para mim e de como ela agiu comigo. Ela respeitou o jeito de cada uma, e embora eu não saiba o que isso pode ter representado para as outras três, eu posso e vou falar o que tudo isso representou para mim.

Talvez por ter tido seus desejos abafados, ela sempre me deixou ser eu mesma, apesar de eu ser, lá em meados do século passado, uma menina bastante diferente do que se esperava que fosse, naquela época, uma “menina” comportada e delicada. Tudo isso, a começar pelos brinquedos e brincadeiras “de menino” que eu apreciava e, mais tarde, já com meus 15 anos, por eu ainda preferir ir andar de bicicleta na rua a, por exemplo, pintar as unhas.

Minha mãe nunca precisou me dizer tudo isso com palavras, mas eu entendia pelas suas atitudes. Ela nunca me censurou por gostar de jogar bola na rua, brincar de carrinho, empinar pipa ou correr até ficar roxa. Ela mesma sempre me contava como ela adorava brincar de queimada, pular corda e de tudo que fosse brincadeira desse tipo. Ela também nunca comentou que minhas brincadeiras de trocar fralda de bebê, fazer comidinha e brincar de lojinha eram mais apropriadas do que as outras para uma menina. Eu gostava de tudo isso e brincava livremente do que eu gostava. Mesmo ouvindo de alguns parentes, vizinhos e amigos que eu parecia um moleque, minha mãe nunca endossou esses comentários ou me repreendeu por qualquer atitude nesse sentido.

Mais tarde, quando eu já era uma adolescente, minha mãe jamais me criticou por não parecer uma “mocinha”, por não ser “feminina” ou por não gostar de me maquiar, pintar as unhas ou usar salto alto e vestido. Também não se preocupava com o fato de eu não namorar, quando os outros julgavam que estava na hora de pensar nisso (eu só fui namorar aos 20 anos) e que eu estava “ficando pra titia”.

Sei hoje que eu só pude me transformar na adulta que sou porque minha mãe simplesmente me deixava ser eu mesma e eu me sentia muito segura de minhas escolhas, desde a mais tenra idade. Ela sempre ficou feliz vendo-me buscar o sonho de estudar e, mais tarde, de dividir tudo isso com o papel de mãe (que sempre foi também um desejo imenso!). Ela sempre foi minha maior incentivadora e eu tinha um prazer imenso em mostrar a ela meus progressos. Até hoje, ainda penso nela a cada vez que cumpro mais uma etapa, supero mais um obstáculo, avanço mais um pouco. Jamais cedi ao que a sociedade determinava que eu deveria ser e como eu deveria agir (e sou feliz assim até hoje) e sabia que tinha o total apoio dela. Isso não quer dizer que tive a competência/sorte/circunstâncias favoráveis para atingir tudo o que sonhei, mas o importante é que fui livre para fazê-lo. Continuo tentando.

O que posso dizer hoje a respeito disso tudo é que eu lamento muito, muito mesmo, que alguém não tenha aparecido na vida de minha mãe, ainda na sua infância (ou que sua própria mãe não tenha tido força para se contrapor às ideias de seu pai), para dizer a ela que seu sonho não deveria morrer tão cedo, apenas por ela ter nascido mulher. 

Portanto, depois de contar essa longa história, minha querida Manuela (a mais nova mulher desta família) e todas as minhas queridas meninas, desejo que vocês tenham sempre em mente que vocês jamais devem limitar seus sonhos, deixar-se moldar àquilo que a sociedade acha que é “apropriado para uma mulher”. Sejam o que vocês quiserem ser, nunca deixem que ninguém destrua seus sonhos. Se tiverem que obedecer a alguém, obedeçam aos seus pais. Se eles não concordarem com suas escolhas, conversem! Eles amam vocês mais do que tudo neste mundo, incondicionalmente, e eu tenho a certeza de que eles jamais repetiriam um equívoco de um pai da década de 1930, como aconteceu no caso de minha mãe. Eles vivem num mundo bastante diferente e, certamente, irão apoiá-las se vocês quiserem ser bombeiras, médicas, engenheiras, cientistas, guitarristas ou o que vocês sonharem ser.

Para terminar, para não deixar nenhuma dúvida, nada disto é uma crítica a qualquer mulher cujas escolhas sejam ou tenham sido diferentes das minhas. O que quero deixar claro é que, QUALQUER QUE SEJA A ESCOLHA, o importante é que tenhamos a liberdade de fazer a nossa própria escolha. Assim como eu sempre quis que as pessoas respeitassem as minhas escolhas, eu procuro respeitar as delas e acho a coisa mais natural do mundo que uma mulher se maquie ou use salto porque gosta e quer, embora eu não goste disso para mim. 

O importante, e é esta a mensagem que eu quero que fique no final de toda essa longa história, é: sejam livres para serem quem vocês quiserem ser! O mundo está cheio de mulheres maravilhosas, capazes de fazer o que querem e não apenas o que querem delas!

 
Amo todas vocês! Amo todas as minhas lindas mulheres! Amo a minha família linda!

Beijo enorme desta tia (de umas), tia-avó (de outras), uma tia chata, esquisita, diferente, emotiva, rabugenta, mas cheia de amor para dar pra vocês e pra toda a mulherada linda desta família (tem muito amor pros meninos também mas, insisto, neste texto eu precisava muito falar das mulheres!)

Obrigada, pequena Manuela, por ter me permitido essa reflexão. Obrigada por ter vindo ao mundo nos presentear com sua luz!

Chris

  Foto: Roseli J.V. (Manu com a roupinha que ela tricotou)


© Direitos Reservados
Proibida a reprodução total ou parcial sem prévio consentimento da autora.
Escrito e publicado por Christine Jz. 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

ESTOU DE VOLTA


Há muito tempo eu escrevo. Escrevo nos meus caderninhos de capa dura, em papeizinhos soltos que quase sempre perco, porque os coloco em algum lugar bem guardado, tão bem guardado, que nunca mais os encontro...

Mas já faz um bom tempo que venho tentando mudar isso, que venho pensando em escrever no computador, guardar na nuvem... Quando penso em trabalho ou estudo, não me passa pela cabeça escrever no papel, parece absurdo (e é, nos dias de hoje). Mas quando se trata dos meus escritos pessoais, tenho a impressão de que, se eu escrever no teclado, não será a mesma coisa, que não será mais aquele momento de introspecção, de conversa comigo mesma.

É essa sensação de aconchego que tenho com as palavras escritas no papel, nos meus velhos caderninhos de capa dura, usando minha caneta preferida, com a minha letra. Acontece que escrever nesses caderninhos tem um problema: eu acabo escrevendo só pra mim mesma. Então pensei que talvez seja hora (ou talvez já tenha até passado muito dela) de escrever algo de uma forma que os textos possam ser lidos por mais alguém além de mim.

Escrever no caderninho ao qual só eu mesma tenho acesso pode ser reconfortante, pode funcionar como uma terapia que me permite organizar as ideias mas, no fundo, eu quero compartilhar o que penso, o que sinto, o que me lembro da minha infância, enfim, tudo aquilo que, de alguma forma, eu possa colocar no papel (ou na tela do computador).

De que adianta escrever algo que ninguém vai ler? É claro que eu sempre tive a ideia de um dia organizar tudo o que já escrevi, de montar tudo num texto coerente, partindo de um projeto, etc. E é claro também que isso nunca funcionou porque, a verdade é que eu nunca vou parar para reler tudo o que já escrevi a fim de organizar aquela enorme colcha de retalhos em textos coerentes. Tem de tudo ali, naqueles cerca de 20 cadernos. Nem ao menos consigo encontrar um único fio condutor para levar adiante esse projeto maluco. Memórias de infância? Reflexões do cotidiano? Planos para o futuro? Crônicas? Um romance? Experiências? Aprendizados?

Não chego a nada e o projeto nunca chega a existir, muito menos a se concretizar. É tanto pensar, planejar, que nunca acontece nada de concreto. Isso tudo, somado ainda ao fato de que eu sempre tenho pra mim que ainda não estou pronta, mas que um dia, quando eu estiver realmente pronta, vou finalmente começar a escrever... (Poxa, o tempo está passando, mulher!). Um dia até tentei organizar o que está nos meus muitos cadernos e vi que tudo o que estava escrito ali já tinha, por assim dizer, “perdido o bonde nas brumas do tempo”. Eram coisas antigas, eu já era uma pessoa diferente, o mundo estava diferente.

Eu hoje olho pra alguns texto e penso: “Nossa, como é que eu podia pensar desse jeito? Quanta coisa eu aprendi desde então”. Faz parte da vida; a gente vai vivendo, amadurecendo, aprendendo e mudando a visão que a gente tem do mundo e das coisas. No fim, percebi que esses textos não passavam de mera curiosidade para filhos e netos que, talvez um dia, folheando aqueles caderninhos amarelados, pudessem ver um pouco de mim quando eu já não estivesse mais por aqui. Que coisa antiga! Rs A verdade é que acho que nem eles se interessarão por isso no futuro. Pois bem, já percebi que não dá para ser assim. Além do mais, hoje em dia, não é difícil encontrar meios de divulgar as ideias, coisa que era bem difícil quando comecei a escrever.

Naquele tempo, há uns trinta, quarenta anos, sei lá, pra que algo que a gente pensasse e escrevesse fosse lido por mais de meia dúzia de pessoas, era preciso publicar um livro. Portanto, fazia sentido, naquela época, registrar as coisas nos caderninhos, coisa que já não funciona mais assim hoje em dia e que parece tão ingênua. Então, há alguns anos, finalmente transportando-me para o século XXI (que estava em seus primórdios), resolvi fazer um blog. E o fiz. É este aqui mesmo, que inaugurei há um bom tempo. Mas, escrevi pouco, não o atualizei e, pouco a pouco, fui desistindo da ideia de escrever um blog. Na verdade, ainda era cedo pra eu entender como ele poderia funcionar.

Depois disso, esse meio de expor textos foi crescendo, eu passei a ler muitos outros blogs, conheci muitas outras pessoas que escreviam e comecei a entender melhor como eles funcionavam. O fato é que, durante um bom tempo, fiquei paralisada, parei de escrever e passei a não mais fazê-lo nem no caderninho de capa dura, nem no computador (só pra mim), nem no blog. Não escrevi nem mesmo em viagens, que era algo que eu adorava fazer. Bem, é verdade que continuei escrevendo numa postagem ou outra nas redes sociais, mas nada que tivesse qualquer semelhança com o que eu pretendia fazer um dia, pra dar vazão à minha vontade de escrever.

Minha última viagem, há cerca de dois meses, passou em branco, sem uma única palavra no caderninho que levei comigo e que voltou vazio. Tudo bem, estou contando ainda com a memória para escrever algo a respeito das experiências que vivi, que, aliás, foram muito enriquecedoras, mas preciso fazer isso logo, antes que eu esqueça tudo o que senti e que aprendi nessa experiência. Muito bem, voltando ao assunto, em resumo, o que acontece hoje é que nem uso o que eu já escrevi e nem começo um novo projeto. Travei. E não gostei nada disso.

Acho que chegou a hora de parar de pensar tanto em como escrever e simplesmente escrever. Por isso estou aqui, de volta ao blog, recuperando-o, reativando-o, tirando-o do limbo. Não, não que eu tenha finalmente um projeto. Não foi por isso que resolvi voltar. Meu único projeto é que vou escrever o que me der vontade, transformando este espaço num lugar onde tanto pode surgir um texto falando da minha infância, como um sobre uma lembrança de viagem, ou outro falando de um evento cotidiano.  A verdade, confesso, é que tenho muito a dizer, mas nunca gostei muito de me expor. É essa a razão principal que tem me impedido de escrever num blog. Mas como criar algo e não mostrar aos outros? Sim, porque o texto é uma criação. No entanto, não é de se espantar que isso ocorra, partindo de uma pessoa que pinta aquarelas e as guarda na gaveta.... É, pois é...

Mas, enfim, estou aprendendo, estou aprendendo... Ah, geralmente eu escrevo textos muito longos. Acho até que poucos terão paciência de ler o que eu escrevo, mas eu resolvi que não vou me impor limites, pois já fiz isso durante muito tempo e o resultado foi que... nada aconteceu. Portanto, decidi que vou escrever! Apenas escrever (acho que vou usar isso como título para o blog... ) Escrever o que me der vontade: uma lembrança qualquer, um sentimento, uma reflexão. Textos longos (sei que é o que vai acontecer com mais frequência), mas poderão também ser textos curtos, frases... Sei lá, o que vier na telha. Em primeira pessoa, terceira, crônicas, depoimentos, opiniões, reflexões, lembranças. Não importa! Isto aqui vai virar uma verdadeira miscelânea, um (des)organizador de ideias. Já não quero mais saber o que vai ser. Apenas será. OK, mãos à obra! Meu materializador de ideias começa agora!

© Direitos Reservados

Proibida a reprodução total ou parcial sem prévio consentimento da autora.
Escrito e publicado por Christine Jz.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

UMA CONCHINHA/ UN COQUILLAGE

Esta história foi originalmente escrita em francês, para uma tarefa de faculdade. Mais tarde, resolvi contá-la em português. Aí vão as duas versões dessa história.

ERA UMA VEZ UMA CONCHINHA...

Uma gaveta. Dentro dela, algumas lembranças que guardo com todo o cuidado e que são revisitadas de tempos em tempos. Calmamente vou mostrando cada uma delas à minha filha, que adora escutar as histórias que elas guardam, pois representam momentos importantes de minha vida. São pequenos souvenirs de acontecimentos que deixaram em mim marcas profundas, que provocaram sensações especiais, emoções verdadeiras. Feliz da vida vou mostrando tudo a ela e contando os testemunhos que representam. Algumas lembranças remontam à minha infância, outras falam de entes queridos que já se foram. Umas fazem lembrar de um passado distante, outras de coisas mais recentes. Mas o que realmente importa é a sensação que elas despertam em mim e o que me fazem reviver. Algumas são coisas muito simples: um papel de bombom, do dia em que fui cantar em um palco pela primeira vez; uma entrada de teatro, dia em que eu e meu marido começamos a namorar; um guardanapo de um restaurante onde fui jantar com uma amiga querida que não via há muito tempo. Pode ser também uma jóia... o valor não reside no preço real, mas na emoção que está ali guardada. De repente, a atenção de minha filha se fixa sobre três pequenas caixinhas de jóias. Na primeira, uma minúscula pulseirinha de ouro, com meu nome gravado: um presente que recebi de minha avó quando eu tinha alguns dias de vida. Cada neta que nascia, recebia essa lembrança da avó e a minha está lá, muito bem guardada. Na segunda caixinha, um pequeno crucifixo de prata e macacita que pertenceu à minha outra avó. Foi dado à minha mãe que, por sua vez, me presenteou com ele. Outro souvernir importante, pois representa, ao mesmo tempo, a lembrança de minha avó e de minha mãe que já se foram. Na terceira caixinha, uma surpresa: nela, cuidadosamente acomodada sobre um tufo de algodão branco e delicado, uma pequena conchinha. Uma simples e minúscula conchinha. Diante do espanto de minha filha, eu disse:

“Este é um souvenir tão importante para mim que decidi guardá-lo assim, como uma jóia. Ele tem uma história.” E então contei a ela a sua história.

Em um belo domingo de verão, uma jovem que desejava muito ter um bebê passeava sozinha pela praia, à beira d’água. Era aquele momento lindo da manhã, em que o sol começa a despontar no horizonte e o céu fica todo colorido de tons de amarelo, rosa e azul. Ela ia olhando para o chão, chutando a água pensativa. Na verdade, embora adorasse a praia, ela estava triste naquele dia pois algo não lhe saía da cabeça. Ela queria engravidar, mas não conseguia. Ser mãe mais uma vez: esse era o seu sonho e ela já tinha tentado tanto que começava a perder a esperança de um dia poder realizá-lo. Mas, sem saber a razão, enquanto ela andava sobre a areia que refletia em pequenos grãozinhos brilhantes aquela linda luz matinal, seu olhar foi atraído para uma conchinha minúscula e solitária, da qual ela não conseguia desviar o olhar. Sem a menor explicação lógica ou plausível, ela começou a ver naquela conchinha algo como uma mensagem de que essa criança com que ela tanto sonhava chegaria em breve. Então ela recolheu a conchinha e a guardou com carinho, como um lembrete de que jamais deveria perder a esperança de ter seu bebê, pois ele viria. Pouco tempo depois ela se tornou mãe de uma linda menina.”

Ao terminar a história, disse a ela: “É por isso que esta conchinha é tão importante para mim, minha filha. Ela representa o meu bem mais precioso: na verdade, esta conchinha é você!”

Esta menina cresceu e tem hoje mais de vinte anos. Ao descobrir o que aquela conchinha representava, ela resolveu me fazer uma surpresa. Enquanto eu viajava, ela se fez tatuar a imagem desta conchinha em seu pulso esquerdo. Segundo ela, essa é uma tatuagem que irá representar para sempre a ligação entre essa mãe sonhadora e sua filha, uma filha desejada com muito amor e de quem ela não desistiu. Uma homenagem comovente, a partir de uma simples conchinha solitária, um sinal de esperança sobre a areia, em uma linda manhã de verão.

UN COQUILLAGE
Un tiroir, quelques souvenirs dedans, méthodiquement et soigneusement rangés de temps en temps. Lentement, prenant mon temps, je les montre à ma fille, qui aime écouter les histoires qu’ils racontent. Chacun parle d’un moment important de ma vie, de choses qui ont fait des marques profondes, qui ont provoqué des sensations, des émotions. Avec joie, en souriant, je transmets à ma fille (ou, au moins, j’essaie de le faire) les témoignages qu’ils représentent. Ils rappellent mon enfance ou même mes ancêtres, qu’on fait partie de ce temps-là. Ils peuvent parler d’un passé très éloigné ou d’un passé récent. Ce qu’importe, en fait, c’est la sensation qu’ils suscitent. Un papier de bonbon, un ticket de cinéma, un bijou. La valeur ne réside pas sur son prix, mais sur l’émotion qu’il déclenche. D’un coup, l’attention de ma fille est fixée sur trois boîtes de bijou. La première contient un petit bracelet en or, avec mon prénom inscrit : un cadeau de ma grand-mère quand je suis née. La deuxième contient le collier avec un crucifix qui appartenait à ma grand-mère. Le troisième… dans la boîte, soigneusement déposée sur un lit de coton blanc et délicat, avais un coquillage ; un simple coquillage. Vis-à-vis de l’étonnement de ma fille, je le dis : « Mais oui, ce souvenir est tellement important qu’il mérite d’être conservé de cette façon. Il a une histoire et je vais te la raconter »
« Un dimanche matin d’été, à l’aube, quand le lumière a une couleur jaune et rose spécial, une jeune fille qui désirait beaucoup être mère se promenait au bord de la mer. Elle était triste pour ne pas réussir à tomber enceinte, malgré tous ces tentatives. Devenir une mère d’un joli bébé était son grand désir, son grand rêve... Elle avait déjà perdu l’espoir de réaliser son rêve. Mais, sans savoir pourquoi, alors qu’elle marchait sur le sable dorée, tout d’un coup son regard a été détourné vers ce coquillage solitaire. Sans savoir la raison, elle a compris à ce moment-là que le coquillage était comme un message pour le dire que l’enfant qu’elle désirait de tout son cœur arriverait bientôt. Alors, elle l’a ramassé et, à partir de ce jour-là, elle l’a porté toujours avec elle, comme un rappel, pour le faire maintenir l’espoir, pour le faire jamais abandonner l’idée d’être mère. Et la fille est venue. C’est à cause de ça que, pour moi, elle représente mon bien le plus précieux : ce coquillage, ma fille, c’est toi ! ».

Aujourd'hui, cette fille a plus de vingt ans et au moment où elle a appri ce que le coquillage représentait, elle a décidé de faire un hommage à sa mère : elle s'est fait tatouer au poignet gauche (du côté du cœur) un coquillage exactement comme celui qui sa mère avait conservé, pour rappeler (selon elle) le lien entre elles, entre mère et fille, une fille qui avait être désirée par sa mère avec amour, de tout son cœur : un hommage émouvant, à partir d’un simple coquillage solitaire, qui était sur le sable, un certain jour d´été.

© Direitos Reservados

Proibida a reprodução total ou parcial sem prévio consentimento da autora.

Escrito e publicado por Christine Jz.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

BELINHA DA NONA

Ela era um bebê quietinho, bonitinho, comportadinho, uma meiga criaturinha que não incomodava ninguém e logo ganhou do nosso tio esse apelido: Belinha da Nona. Ela era uma criança tão comportada, que se contrapunha tanto ao meu comportamento e à minha fama de furacão, que eu morria de ciúme dela. Ela chegou quando eu já tinha cinco anos e me lembro bem da sensação que sua chegada me causou. Não que meu posto de até então caçula fosse um paraíso. Nada na minha infância foi muito tranqüilo, porque eu vivia em ebulição. Quanto a ser caçula... Minha irmã mais velha era meiga, fofa, delicada e... chorona. Eu logo percebi que ser valente era uma forma de me destacar, de ser aceita: olha como ela é corajosa! Toma injeção e nem chora, vai ao dentista e não reclama! Eu era a fortona, a corajosa... Tudo fachada! Lá por dentro, eu morria de medo e queria colo, mas vesti a máscara da menina superpoderosa para conquistar o meu espaço. De qualquer forma, ser caçula tinha seu lado bom; seja como for, eu era o centro das atenções. Mas um dia percebi que algo ia mudar quando minha mãe anunciou sem rodeios: “ É, você vai perder seu troninho” . Lembro-me disso como se fosse hoje. Minha mãe estava agachada no chão no nosso quintal cheio de árvores e eu estava sentada na sua perna. Eu tinha cinco anos. Tentei processar aquilo, afinal, era enigmático demais para mim e minha mãe tinha mesmo falado de forma que eu não entendesse , como se estivesse pensando alto. Mas... bem, algumas conexões infantis se fizeram no meu cérebro e eu fui ligando tudo... Plim, plim... Minha mãe estava grávida, eu era a princesa, outra criança ia chegar e o colo seria dela. Em outras palavras, eu estava sentada no trono do qual seria muito em breve despojada! Comecei ali mesmo a não gostar daquele bebê intrometido.

Mais alguns meses se passaram e eu já tinha esquecido daquele episódio, até que um dia eu acordei e fui para a cozinha, como fazia todos os dias, para tomar meu café da manhã. Eu ainda não ia à escola (no meu tempo, a gente só ia à escola ao completar sete anos) e minha mãe sempre estava lá nessa hora, providenciando o almoço. Mas minha mãe não estava lá, como de costume. Procurei no quarto dela e nada! Já meio desesperada, perguntei à minha avó (nós morávamos com nossos avós) e ela me disse: “Sua mãe foi à maternidade buscar o nenê...” Ai! Aquele bebê de novo, roubando minha mãe! E o meu leite com Nescau? Quem é que ia fazer? Minha avó, é claro. Mas quem disse que eu queria? Eu queria a minha mãe. Mas a minha mãe estava ganhando o bebê e alguns dias depois ela chegou em casa com o novo pacotinho. Era uma menina lindinha, tranqüila... Cutchi, cutchi... E eu fiquei jogada às traças... É claro que não fiquei, mas era bem assim que eu me sentia. Todo mundo queria tirar foto dela, olhar pra ela, e eu já não tinha a menor graça. Quando meu pai pegou uma caixinha de papelão e colocou as fotos dela lá dentro, ele escreveu na tampa: “Fotos da ...”. E eu fui lá, na calada da tarde (porque à noite eu estava dormindo) e escrevi com minha letra cursiva torta de cinco anos, bem ao lado: “Bela porcaria, feias pra chuchu”. Assim, ficou lá registrado o meu terrível ciúme infantil. Ninguém ligou muito. Ninguém ficou bravo, ninguém achou graça... Eu não era mais a caçula...

Outro episódio que me marcou foi quando alguns meses mais tarde minha irmãzinha teve um problema e precisou ser internada no hospital. Minha mãe ficou lá com ela, é claro, e eu e minha irmã mais velha ficamos em casa com nossa avó. De novo eu me lembro de acordar, não encontrar minha mãe em casa como de costume e receber a notícia de que ela estava com o bebê. Mas eu queria porque queria ver minha mãe. Então minha tia me levou até o hospital, eu vi minha mãe e minha irmãzinha na caminha tomando soro com remédio. Achei que eu tinha ido lá resgatar minha mãe e que ela voltaria para casa comigo. Quando descobri que eu iria embora com minha tia e minha mãe ficaria lá, comecei a chorar. Muito! Lembro-me da cena: eu e minha tia no ponto de ônibus da Praça Buenos Aires. E eu chorando. Muito! Minha tia não sabia mais o que fazer. Acho que ela queria me esganar ou abrir um buraco para se enfiar. Não sei o que ela sentiu, mas sei que ela se lembra da cena tão bem quanto eu... Um dia desses, há bem pouco tempo ela me disse: "Você se lembra como você chorou naquele dia em que a gente foi visitar sua irmãzinha no hospital?" Nem tive coragem de perguntar se ela sabia porque eu chorava tanto... Ficou por isso mesmo.

O tempo foi passando e o ciúme ia me corroendo. Eu era terrível, irriquieta, levava bronca o tempo todo; não dava sossego pra ninguém. E a Belinha da nona continuava belinha. Chegou o dia de eu ir para a escola. Grande dia! Meu primeiro dia de aula, uniforme lindo, novinho, laço de fita branca no cabelo, engomada com capricho, sapato novo, engraxado e brilhante. Ah! O cheirinho de couro da mala nova, o estojo cheio de lápis de todas as cores, o caderno encapado pelo meu pai, com desenho na primeira página. Tudo perfeito! Até o momento em que minha mãe me avisou que eu iria para escola com a minha vizinha... Ela não podia me levar. Adivinha por quê? Porque tinha que cuidar do bebê (já nem tão bebê assim àquela altura do campeonato). Ai, sempre esse bebê intrometido! E lá fui eu, primeiro dia de aula, levada pelas mãos da vizinha que tinha um filho da minha idade na mesma escola. E justamente naquele primeiro dia, em que eu queria que minha mãe me visse orgulhosa entrando na escola, com minha mala e meu uniforme impecáveis. Mas ela ficou em casa com o bebê. E eu não podia chorar e nem mostrar qualquer fraqueza porque eu era a valentona. Minha irmã mais velha chorava porque não queria ficar na escola, chorava para tomar injeção, mas eu não! Eu ia para a escola sem chorar. Na verdade, eu não queria chorar. Eu queria muito ir à escola. Mas eu queria que minha mãe tivesse presenciado isso, pelo menos no primeiro dia. E por isso, sim, eu tinha vontade de chorar. Durante algum tempo eu tentei fazer minha mãe me levar à escola, uma vez que fosse. Lembro-me de um dia fingir que estava com dor de barriga e de ter pedido que ela fosse comigo para falar com a professora. Mas não deu certo. Minha mãe, muito prática, escreveu um bilhete e mandou que eu o entregasse à professora. Eu nem entreguei, porque não estava com dor de barriga mesmo. Bem, com minha avó isso dava certo. Quando eu dizia que estava com dor de barriga, ela ia até o quintal, pegava umas folhinhas de hortelã e me fazia um chá. Hoje eu sei que ela entendia o que eu queria e fazia para me agradar. Eu adorava aquilo. Mas com minha mãe não funcionou... Até que resolvi desistir. Já no segundo ano eu sabia o caminho da escola e podia até ir sozinha (algumas vezes me atrevi a voltar sozinha para casa). A escola ficava a alguns quarteirões de casa eu já ia e voltava com minha irmã mais velha. Minha mãe nunca precisou me levar ou me buscar na escola. Porque eu não chorava...

Com o passar do tempo, eu continuava a ser a terrível filha do meio, entre duas crianças calminhas e comportadinhas. A Belinha, sempre belinha. Aprontou muito pouco na sua infância comportada, mas quando o fez, realmente caprichou. Um belo sábado, estávamos na cozinha (eu, minha mãe, minha irmã mais velha e meu pai) e a Belinha estava na sala, quietinha. Ela nunca aprontava e ninguém se preocupava em olhar o que ela estava fazendo. Mas naquele dia, ela tinha um lápis na mão e descobriu que atrás do encosto das cadeiras da sala de jantar o plástico esticado podia ser furado, fazendo um barulhinho engraçado. Ela tinha cinco anos, mas sabia que o que estava fazendo não seria aprovado pelos mais velhos. Como era uma criança muito inteligente e criativa, bolou uma estratégia para a traquinagem da sua vida: trancou todo mundo na cozinha para poder trabalhar sossegada. E assim, furou todas as cadeiras! Infelizmente, para nós que ficamos trancados, seu raciocínio estava muito à frente da sua capacidade motora, ou seja, de alguma forma ela conseguiu trancar a porta, mas depois, não conseguiu abrir. Entre a sala em que ela estava e os prisioneiros que ela fez só existia um vitrô (que obviamente ela não alcançava) e que nos dava muito pouca visão. Ela não conseguia tirar a chave para nos entregar, não conseguia virá-la para abrir a porta e ficou muda e assustada em um canto, desconfiada de que tinha feito uma terrível, como direi, caquinha! E nós todos, trancados na cozinha... Eu tinha uns dez anos e, na verdade, achava aquilo tudo uma aventura divertida. Depois de algum tempo, minha mãe teve a idéia que garantiria o nosso resgate: foi até o muro do quintal, conseguiu chamar a vizinha e pediu que ela telefonasse para minha avó, que nessa época morava a alguns quarteirões de casa. Felizmente, meus avós tinham uma chave reserva e meu avô veio até nossa casa para nos libertar. Não me lembro, mas acho que minha pequena irmãzinha não levou nem mesmo uma bronca. E nem precisava, porque depois disso, ela voltou a ser a criança exemplar que gostava de ler seus livrinhos, desenhar, brincar com suas bonequinhas, sempre sem perturbar ninguém.

Hoje a Belinha da Nona cresceu e arrisco dizer que se tornou uma das mulheres mais fortes que já conheci. Uma irmã carinhosa e presente, que talvez seja a mais forte das quatro irmãs... a Belinha da Nona. Uma mulher que cuida da casa, dos filhos, do marido e da sua arte, com muita competência. Embora minhas outras irmãs também sejam muito talentosas, ela parece ter sido a que mais herdou de nosso pai a veia artística, aliada à paciência oriental e ao capricho extremo com os mínimos detalhes. É também a que mais cuida de manter as tradições da família, a que se lembra de todas as datas, a que mais se empenha em agregar sempre e mais as quatro irmãs e suas famílias. É claro que o ciúme passou. Ele foi substituído pelo respeito que sinto por ela. Hoje ela é uma grande amiga, uma irmã muito amada, assim como minhas duas outras irmãs. É parte da família da qual me orgulho muito de fazer parte, pela união, pelo respeito mútuo e pelo amor. Uma família pela qual agradeço todos os dias. Bem, minhas irmãs sabem o quanto as amo e respeito e o quanto elas são importantes para mim, mas não custa deixar mais uma vez aqui registrado esse sentimento! Valeu, mosqueteiras! J

© Direitos Reservados

Proibida a reprodução total ou parcial sem prévio consentimento da autora.

Escrito e publicado por Christine Jz.

terça-feira, 16 de junho de 2009

UM ESTRANHO CASO...

Sou um estranho caso, sim. Resolvi prestar vestibular e fazer uma nova faculdade numa idade em que a maioria das pessoas, após décadas de trabalho, está se aposentando para curtir a vida e não pensar mais em estudar. Nada contra. É o descanso merecido de quem já batalhou muito pela vida afora. Eu também pensava em fazer isso. Mas ao atingir essa idade, percebi que eu ainda tinha uma porção de projetos, uma porção de coisas que eu ainda queria aprender e pensei: “Por que não? O que me impede? Se eu quero aprender e existe quem queira e possa me ensinar, por que não? Vamos lá!” E eu fui. Resultado: sou uma aluna de faculdade diferente; sou mais velha do que a maioria dos pais dos meus colegas e mais velha do que a maioria dos meus professores. Mas quando estou lá, no meio dos novos amigos que fiz, no meio dos professores que têm o que me dizer, nem me lembro disso. Eu me sinto bem. Sei que muita gente me olha e pensa: “Por que alguém com essa idade ainda quer estudar? O que ela vai fazer com esse diploma quando conseguir chegar lá?” Eu não sei responder. Talvez eu consiga fazer algo de bom e até diferente daquilo que irão fazer aqueles que saem da faculdade com 20 e poucos anos, aliando os meus estudos atuais à experiência que já acumulei ao longo das décadas a mais que vivi. Talvez não. Quem sabe…
Mas prefiro não antecipar nada. Prefiro não pensar no que vai acontecer daqui a um, dois ou dez anos. Apenas quero viver um dia de cada vez, tirando de cada um o prazer de ainda ter a chance de aprender coisas novas. Sim, esse é um grande prazer. Dou um imenso valor ao fato de ainda poder estudar, agradeço todos os dias pela chance que tenho de fazer novos amigos, de conhecer as pessoas incríveis que conheci e continuo conhecendo ao longo dessa jornada: colegas, professores e tantas mais, que cruzam meu caminho porque estou por lá e que eu jamais iria conhecer de outra forma. Minha embalagem envelheceu, não há como negar, mas a minha vontade de aprender, não! Ainda me sinto com a mesma ânsia de saber que tinha aos 5, 10, 20, 30, 40… E não se trata de aprender para guardar para mim, aprender simplesmente para acumular mais conhecimento e me sentir mais " inteligente". Não é nada disso. Trata-se da vontade de aprender para ter mais o que ensinar. Sempre gostei de ensinar e, fazendo um balanço da minha vida, percebo que passei quase toda ela fazendo exatamente isso. Adoro transmitir o que aprendo e, exatamente por isso, tenho um respeito enorme para com aqueles que me ensinam hoje o que um dia aprenderam. Eu os respeito, admiro e sou muito grata. E não falo só de professores; todos nesta vida têm algo a ensinar. Então percebo como o dia-a-dia é importante, como o fato de sair de casa, encontrar pessoas, conversar, viver, nos dá alento. E ninguém precisa esperar por um diploma para fazer isso. É algo que pode (e deve!) ser feito a cada dia de nossas vidas. Dividir, compartilhar o que sabemos. O que aprendo hoje, não só na sala de aula, mas também na convivência com as pessoas, é uma coisa a mais que posso ensinar amanhã. É o eterno aprender: aprender, como se fosse viver para sempre.
Enfim, como me sinto sempre disposta a aprender, acordo cedo todos os dias para ir à faculdade, estudo com prazer e aprendo muita coisa boa, às vezes me esqueço que minha embalagem denuncia minha idade cronológica. Lá no meu íntimo, muitas vezes me esqueço que meus cabelos estão ficando brancos e que meu rosto está ficando cheio de rugas, até que alguém me lembre (às vezes, com um simples olhar). Mas não tenho do que me queixar: meus amigos, em sua grande maioria, me tratam com muito respeito e carinho. Entre os amigos e professores que encontro regularmente, que já me conhecem há mais de três anos, eu fico totalmente à vontade. Mas não posso negar que a coisa fica estranha quando apareço em um novo grupo e enfrento mais uma vez os olhares de estranheza daqueles que me vêm pela primeira vez nessa situação de estudante de cabelos brancos. Senti-me assim em meio aos alunos que vão fazer intercâmbio. Isso também faz parte das coisas que tenho a chance de fazer e que vou aproveitar. 
Da mesma forma que estudo aqui no meu país, entre pessoas mais novas, vou estudar no exterior. Eu sei que vai começar tudo de novo. As pessoas vão me olhar daquele jeito estranho, tentando entender o que faço ali, de tanta gente mais jovem do que eu. Nessas horas, chego a ficar um pouco triste. Mas isso, de forma alguma vai diminuir minha vontade de aprender e de usufruir novas experiências tão importantes. Afinal, é impossível explicar para cada um que tenho muita disposição, que já estudei muitas coisas e quero continuar estudando, que tenho muita vontade de aprender e que ainda pretendo fazer muita coisa útil nesta vida. Deixo que me olhem e procurem suas próprias explicações. Desconsiderando os cabelos brancos e as rugas na face, esquecendo totalmente a embalagem, lá no fundo de minha massa cinzenta, ainda me sinto muito jovem. Prefiro pensar que sou um tipo de Benjamin Buttom: que estou ficando mais jovem a cada dia que passa, que vou ter muito tempo ainda para colocar em prática tudo o que aprendo hoje. É uma questão de vontade, de ânsia de viver e de aprender. É isso que nos torna mais jovens a cada dia.

© Direitos Reservados
Proibida a reprodução total ou parcial sem prévio consentimento da autora.
Escrito e publicado por Christine Jz.

domingo, 10 de maio de 2009

SEGUNDA(S) FAMÍLIA(S)

Quero falar de uma coisa especial, algo muito marcante na minha infância: o que eu considero a segunda família que tive. Trata-se da família de meus tios – irmã de minha mãe e seu marido – e a sua filha, um pouco mais nova do que eu. Analisando hoje, como adulta, penso que minha infância não deve ter sido uma coisa muito fácil. Meu pai era operário, acordava às cinco da manhã e ia embora para o trabalho com sua marmita debaixo do braço, voltando somente à noitinha. Ele não tinha muito tempo para nós, mas o pouco que pudemos conviver nesse período e também mais tarde, depois de sua aposentadoria, foi algo extremamente marcante. Isso merece um texto à parte, pois meu pai era uma pessoa muito especial e poucos devem ter conhecido ou percebido sua verdadeira essência, pois ele era uma pessoa muito calada e discreta. Enfim, o salário era pouco, tínhamos o essencial para viver dignamente, mas só o essencial, sem que fosse permitida qualquer extravagância, qualquer compra fora do Natal (graças ao 13º salário), qualquer refeição fora de casa. Minha mãe não se conformava muito com a situação, sofria com tudo isso, mas, apesar das dificuldades, morávamos na casa de nossos avós maternos, por isso nunca nos faltou um lugar decente e gostoso para viver. O bairro era bom, os vizinhos ótimos, a escola pública próxima de casa era excelente e nossa casa era grande e tinha um quintal enorme. Também nunca nos faltou comida; tudo simples, mas tudo bom e saudável e meu avô sempre estava ali para ajudar no que quer que fosse necessário e importante (o nosso pediatra particular, por exemplo). Minha mãe sentia-se com o orgulho ferido e, além de nunca ter aceitado ajuda alguma de meu avô, ainda o culpava por não ter permitido que ela tivesse estudado além do primário e acabava sendo intolerante e impaciente com ele, o que gerava muitas discussões que nós, crianças, éramos obrigadas a assistir. Além disso, meu avô implicava com a minha avó o tempo todo e eles também criavam situações de tensão.

Parece um cenário extremamente complicado, que poderia ter deixado marcas negativas em qualquer criança. Mas não foi. Quando penso na minha infância com o coração e não com a razão, só tenho lembranças daquilo que foi bom, de tudo de bom que nos ensinaram, de como nos amaram e nos ensinaram a amar. Sei que minhas três irmãs sentem o mesmo e a prova disso é que nos damos muito bem, nos amamos muito e nos respeitamos, graças a tudo aquilo que nos foi ensinado, graças aos valores que nos foram transmitidos, independentemente de qualquer atrito ou situação difícil pelas quais eles tenham passado e das quais, penso, ninguém está livre. Minha infância foi agradável, no fim das contas: eu morava em um bairro de imigrantes, que por si só já funciona como uma grande família e o que mais me foi ensinado nesse ambiente, foi a solidariedade. Eu tinha muitos amigos, brincava livre na rua até a hora que quisesse, ia a pé para a escola, ia sozinha à casa de amigos, ia a pé ao cinema, à padaria, à doceira, o que nos dava uma sensação de liberdade que não conseguimos dar a nossos filhos hoje. Portanto, acho que posso me sentir uma pessoa que teve uma infância bastante privilegiada, embora simples, pois eu tinha várias figuras adultas ao meu redor além de meus pais: dentro de casa, meus avós; na rua, vários outros avós que se sentavam com suas cadeiras nas respectivas portas das casas e tomavam conta das crianças que brincavam na rua.

Mas quero falar de outras figuras adultas que marcaram muito a minha infância e que foram como verdadeiros pais: meus tios. Era comum, desde pequena, eu ir para a casa deles e ficar por lá alguns dias, nos fins-de-semana ou nas férias. O domingo era especialmente gostoso, porque a gente ia passar o dia no clube e eu sempre adorei isso (algo que faço até hoje). Minha tia fazia uma cesta cheia de sanduíches e frutas e a gente ficava no clube até à noitinha. Eu me divertia muito, pois sempre gostei da vida ao ar livre, de natureza e de esportes. Além disso, eles me levavam para sua casa de campo, na montanha, lugar que eu amava e ainda amo e para onde eu acabava indo muitas vezes ao ano. A gente ia pelo menos uma vez por mês para lá, em determinada época e, nas férias de verão, chegávamos a ficar quase dois meses direto. No caminho para lá, que durava de três a quatro horas por uma estrada cheia de curvas intermináveis, eu me lembro que ia cantando todo o repertório que eu conhecia. E o incrível era que meus tios não me mandavam calar a boca! Talvez eles não tivessem idéia do quanto aquilo tudo era importante para mim. Eu morava numa casa cheia de gente, com os pais, três irmãs e os avós. Dividia meu quarto com três irmãs e sofria, porque era muito menos bagunceira do que elas e nunca conseguia ter as coisas do meu jeito. Na casa dos meus tios, eu encontrava um mundo alternativo, uma família alternativa, uma outra experiência: eu tinha uma prima com quem brincar, que era tão levada quanto eu, e adultos que eram bem mais tolerantes que meus pais com as nossas travessuras; lá eu tinha uma estante repleta de livros para escolher e eu amava ler tanto quanto brincar de bola ou andar de bicicleta. Quando eu não estava brincando, pegava um livro e passava horas devorando-o. Lembro-me que minha prima tinha uma malinha de metal (uma antiga lancheira) cheia de carrinhos coloridos e que a gente virava o quarto de brinquedos de pernas para o ar: mexia em tudo, mudava os móveis de lugar, fazia cabaninhas de lençóis. Era um quarto próprio para brincar, por isso a gente podia ter mais liberdade de fazer uma certa bagunça inocente. Não que viver na minha casa não fosse bom, ao lado da minha família. Claro que era (como já disse no início e que vai merecer um texto à parte), quando eu ficava longe, tinha muita saudade da minha casa, mas isto era algo mais, uma experiência diferente e, que por isso, era divertida. A gente ficava conversando até tarde na cama, contando histórias, contando piadas ou lendo gibis. Tinha um piano na sala, que a gente (eu, pelo menos) achava que tocava. Eram algumas melodias, apenas, mas repetidas à exaustão. Isso devia deixar a vizinha maluca, mas eu tocava o meu repertório de três ou quatro musiquinhas (incluindo, é claro, “O Bife”) até cansar.

Minha tia era bem menos severa do que minha mãe; eu não me esqueço, por exemplo, de uma vez em que ela me ensinou e deixou que eu fizesse bolinhos de arroz sozinha, numa idade em que minha mãe não permitia nem que eu chegasse perto do fogão. Eu gostava da rotina da casa da minha tia, do perfume gostoso que aquela casa sempre tinha (até hoje não descobri como ela consegue, mas sua casa é sempre perfumada), de ir à feira com ela em um bairro diferente do meu (embora deva ressaltar que também adorava ir à feira com a minha mãe, adorava ajudar a fazer as compras, a puxar o carrinho, me sentir útil, enfim). Além de tudo, o meu tio parecia gostar muito de mim e eu gostava de conviver com ele, um siciliano de raciocínio rápido, uma pessoa perspicaz e inteligente. Ele era engraçadíssimo quando contava casos e piadas; era extremamente falante e adorava conversar comigo. Estimulava meu gosto pela leitura, me ensinava truques de cartas, conhecia todos os enigmas lógicos do livro “O homem que calculava” de Malba Tahan e adorava me desafiar a encontrar as respostas. E eu gostava disso. Meu tio gostava da minha energia, da minha disposição para a leitura e para aprender. Ele também era uma pessoa “energética”. Como bom siciliano e fazendo jus à fama que a eles é atribuída, tinha suas explosões e aí o melhor a se fazer era sair de perto. Muita gente tinha medo dele nessas horas, mas eu nunca tive, pois conhecia a pessoa que estava por trás daquela tempestade e sabia que aquilo passava rapidamente. Infelizmente ele já se foi, mas minha tia e minha prima ainda estão aqui para que eu possa lhes contar como eles foram importantes na minha infância.

Ainda hoje, muitos perfumes que sinto me fazem lembrar da casa de minha tia e da vida paralela que vivi ali. Às vezes eu abria o guarda-roupa só para sentir o cheiro gostoso que saia dali de dentro. Quando sinto um perfume que me lembra daquele da infância, tento descobrir o que é, para resgatar o cheiro, mas até hoje não consegui descobrir exatamente o que era: o que mais se aproximou, foi o de flores de laranjeira. Mas pode ser limão, jasmim... Até hoje não sei se ela perfumava as gavetas com sabonete, mas me lembro bem do sabonete “Regina”, quadradinho e branquinho, com um desenho em preto e branco da Catedral de Milão na embalagem. Consigo sentir seu cheiro de memória, mas nunca consegui encontrar nada igual a ele para reavivar com esse sentido aquela fase da minha vida. Lembro-me que quando eu freqüentava a piscina da prefeitura perto de casa, por volta dos 4 anos de idade, era esse o sabonete que eu levava. Como seria bom se eu encontrasse algo com aquele “cheiro de infância” hoje! Não me canso de procurar.

Lembrando de brincar com minha prima, lembrei-me de outra casa de pessoas da família que freqüentei muito e que também marcou minha infância. O irmão de minha mãe morava com sua esposa e dois filhos, como idades regulando com a minha, na mesma rua, numa pequena vila. E eu ia muito à casa deles também e encontrava lá muitas coisas que não tinha em casa. Minha tia, neste caso, também era bem mais tolerante do que minha mãe com as bagunças infantis. Coisas que me lembro desse tempo: molhar o quintal de cimento queimado, encher de sabão e ficar escorregando de barriga, brincar de autorama, de boneca que trocava roupinhas (a precursora da Barbie), comer biscoito de polvilho quentinho, saído do forno da fábrica logo ali na esquina, comer pão fresquinho com mortadela e guaraná Antarctica de garrafinha verde e ouvir muita música na vitrola que ficava debaixo da escada, principalmente Beatles, por quem minha prima era absolutamente apaixonada. Ela tinha todos os discos e também posters na parede do quarto (o que era moda nessa época). Meu tio comprava muitos discos e a gente ouvia muita música. Era super divertido. Hoje sei que era música da melhor qualidade, mas eu nem sabia avaliar muito isso na época. Eua apenas gostava de ouvir.

Na verdade, parece que a gente tinha, naquela época, um núcleo familiar principal e vários outros que também contribuíam para a nossa formação. As pessoas moravam relativamente perto, se visitavam, as crianças tinham certa liberdade para andar sozinhas, para ir à casa de tios, de avós, de amiguinhos do bairro. Não sei se as crianças de hoje têm esse privilégio, mas eu tive e dou a isso um enorme valor. Espero que essas pessoas que marcaram tanto essa fase da minha vida saibam como foram importantes para mim e o quanto eu sou grata por terem me proporcionado essa felicidade, essa infância tão gostosa!

© Direitos Reservados

Proibida a reprodução total ou parcial sem prévio consentimento da autora.

Escrito e publicado por Christine Jz. 

sábado, 25 de abril de 2009

MA VIE

Este é um texto escrito no segundo ano do francês. Já está um pouco melhor quando comparado àquele do primeiro ano... Mais vocabulário e vários tempos verbais...rsss Tem a  tradução no final, que deixa bem claro que quando traduzimos o texto de um aprendiz para a língua materna... fica mesmo parecendo a redação de uma criança...


MA VIE

Aujourd’hui, quand je pense à toutes les choses que j’ai fait pendant toute ma vie, je trouve que j’ai eu une véritable bonne vie et que j’ai fait plusieurs  choses différentes, concernant à tous les sujets que j’aimais et que j’aime encore: la science, la musique, la littérature et le sport. Il y a, en fait, seulement peu de choses que j’aurais fait si j’avais eu du temps, mais ce sont de choses que je ne regrette pas de n’avoir pas fait, parce que je sais que c’est impossible qu’une personne puisse réussir de faire tout ce qu’elle veut faire pendant sa vie entière. Bref, ça m’est égal, par exemple, si pendant la vie on fait dix ou cent choses. L’important, à mon avis, c’est qu’on fasse bien fait ce qu’on aime et qu’on soit heureuse en les faisant.
Ah! Je me souviens de mon enfance; j’avais décidé que j’aurais six enfantes et que je serais une personne très importante dans la recherche scientifique. Bon, j’ai eu seulement deux enfants et je pense aujourd’hui que si j’avais eu les six enfants que j’avais pensé avoir, je n’aurais pu pas avoir étudié et avoir travaillé comme j’ai fait vraiment pendant ma vie entière. Je suis très heureuse aujourd’hui d’avoir mes deux enfants et je dis que tous le deux sont merveilleux. C’est très bon!
Je voudrais qu’ils sachent qu’ils sont les bijoux les plus précieux que j’ai aujourd’hui et je sais qu’ils vont savoir une fois encore em lisant ces mots. Ils savent, mais j’aimerais le répéter mille fois chaque jour.
En parlant d’une autre rêve de mon enfance, je pense avec plaisir que je voudrais avoir été une scientiste célèbre, celle que trouverait la guérison de plusieurs malades. J’ai fait de la recherche pendant plusieurs années et j’ai trouvé beaucoup des choses. Je pense, aujourd’hui que je devais avoir fait plus de recherches, mais je ne regrette pas d’avoir laissé mes études pour faire beaucoup d’autres choses très importantes pour moi aussi.
La musique, par exemple ! Comme je suis heureuse pour avoir pu chanter et jouer de la guitare. Ça me gêne qu’on pense que j’aie perdu le temps. Au contraire, j’ai aujourd’hui la sensation agréable d’avoir reçu des cadeaux : ce sont la musique dans ma vie et tous les amis que je me suis faits.        
Aujourd’hui j’étudie encore et ça c’est une manière de rester toujours vive, une façon de maintenir mon cerveau actif. J’aime étudier, j’aime apprendre toutes les choses que je  puisse apprendre et je suis certaine que je vais étudier et travailler heureusement  jusqu’à ma mort.

TRADUÇÃO- MINHA VIDA

                Hoje, quando penso em tudo o que fiz em toda minha vida, acho que tive uma vida realmente muito boa e fiz muitas coisas diferentes, que têm a ver com tudo o que eu amava e ainda amo: a ciência, a música, a literatura e o esporte.  Na verdade, há apenas umas poucas coisas que eu gostaria de ter feito, se tivesse tido tempo, mas são coisas que não me arrependo de não ter feito, pois sei que é impossível que uma pessoa consiga tudo o que tem vontade de fazer ao longo de toda a sua vida. Ou seja, para mim, pouco importa se ao longo da vida uma pessoa faz dez ou cem coisas. O importante, na minha opinião, é que ela faça bem algo que ama e que seja feliz ao fazê-lo.
                Ah! Eu me lembro da minha infância; eu resolvi que teria seis filhos e seria uma cientista famosa. Bem, eu tenho dois filhos e hoje penso que se tivesse tido os seis filhos que eu tinha planejado, eu não poderia ter estudado e trabalhado como eu realmente fiz ao longo da vida. Sou hoje muito feliz com os filhos que tenho e acho que eles são maravilhosos. É bom demais!
                Eu gostaria que eles soubessem que são as jóias mais preciosas que possuo hoje e eu sei que eles saberão, quando lerem essas palavras. Eles sabem, mas eu gostaria de repetir mil vezes por dia.
                Falando de um outro sonho de minha infância, penso com prazer que gostaria de ter sido uma cientista famosa, que iria descobrir a cura de doenças. Eu fiz pesquisa durante vários anos e descobri uma porção de coisas. Eu acho que deveria ter feito mais pesquisas, mas não me arrependo de ter deixado meus estudos nessa área para fazer uma porção de outras coisas também muito importantes para mim.
                A música, por exemplo! Como sou feliz por ter podido cantar a tocar violão. Fico chateada quando pensam que eu perdi meu tempo com isso.  Pelo contrário, hoje eu tenho a sensação agradável  de ter recebido presentes: a música na minha vida e todos os amigos que fiz.
                Hoje eu continuo estudando e essa é uma maneira de me manter sempre jovem, uma maneira de manter meu cérebro funcionando. Eu adoro estudar, adoro aprender tudo que posso e tenho a certeza de que vou trabalhar e estudar alegremente enquanto eu viver. 

© Direitos Reservados
Proibida a reprodução total ou parcial sem prévio consentimento da autora.
Escrito e publicado por Christine Jz.