terça-feira, 11 de agosto de 2009

BELINHA DA NONA

Ela era um bebê quietinho, bonitinho, comportadinho, uma meiga criaturinha que não incomodava ninguém e logo ganhou do nosso tio esse apelido: Belinha da Nona. Ela era uma criança tão comportada, que se contrapunha tanto ao meu comportamento e à minha fama de furacão, que eu morria de ciúme dela. Ela chegou quando eu já tinha cinco anos e me lembro bem da sensação que sua chegada me causou. Não que meu posto de até então caçula fosse um paraíso. Nada na minha infância foi muito tranqüilo, porque eu vivia em ebulição. Quanto a ser caçula... Minha irmã mais velha era meiga, fofa, delicada e... chorona. Eu logo percebi que ser valente era uma forma de me destacar, de ser aceita: olha como ela é corajosa! Toma injeção e nem chora, vai ao dentista e não reclama! Eu era a fortona, a corajosa... Tudo fachada! Lá por dentro, eu morria de medo e queria colo, mas vesti a máscara da menina superpoderosa para conquistar o meu espaço. De qualquer forma, ser caçula tinha seu lado bom; seja como for, eu era o centro das atenções. Mas um dia percebi que algo ia mudar quando minha mãe anunciou sem rodeios: “ É, você vai perder seu troninho” . Lembro-me disso como se fosse hoje. Minha mãe estava agachada no chão no nosso quintal cheio de árvores e eu estava sentada na sua perna. Eu tinha cinco anos. Tentei processar aquilo, afinal, era enigmático demais para mim e minha mãe tinha mesmo falado de forma que eu não entendesse , como se estivesse pensando alto. Mas... bem, algumas conexões infantis se fizeram no meu cérebro e eu fui ligando tudo... Plim, plim... Minha mãe estava grávida, eu era a princesa, outra criança ia chegar e o colo seria dela. Em outras palavras, eu estava sentada no trono do qual seria muito em breve despojada! Comecei ali mesmo a não gostar daquele bebê intrometido.

Mais alguns meses se passaram e eu já tinha esquecido daquele episódio, até que um dia eu acordei e fui para a cozinha, como fazia todos os dias, para tomar meu café da manhã. Eu ainda não ia à escola (no meu tempo, a gente só ia à escola ao completar sete anos) e minha mãe sempre estava lá nessa hora, providenciando o almoço. Mas minha mãe não estava lá, como de costume. Procurei no quarto dela e nada! Já meio desesperada, perguntei à minha avó (nós morávamos com nossos avós) e ela me disse: “Sua mãe foi à maternidade buscar o nenê...” Ai! Aquele bebê de novo, roubando minha mãe! E o meu leite com Nescau? Quem é que ia fazer? Minha avó, é claro. Mas quem disse que eu queria? Eu queria a minha mãe. Mas a minha mãe estava ganhando o bebê e alguns dias depois ela chegou em casa com o novo pacotinho. Era uma menina lindinha, tranqüila... Cutchi, cutchi... E eu fiquei jogada às traças... É claro que não fiquei, mas era bem assim que eu me sentia. Todo mundo queria tirar foto dela, olhar pra ela, e eu já não tinha a menor graça. Quando meu pai pegou uma caixinha de papelão e colocou as fotos dela lá dentro, ele escreveu na tampa: “Fotos da ...”. E eu fui lá, na calada da tarde (porque à noite eu estava dormindo) e escrevi com minha letra cursiva torta de cinco anos, bem ao lado: “Bela porcaria, feias pra chuchu”. Assim, ficou lá registrado o meu terrível ciúme infantil. Ninguém ligou muito. Ninguém ficou bravo, ninguém achou graça... Eu não era mais a caçula...

Outro episódio que me marcou foi quando alguns meses mais tarde minha irmãzinha teve um problema e precisou ser internada no hospital. Minha mãe ficou lá com ela, é claro, e eu e minha irmã mais velha ficamos em casa com nossa avó. De novo eu me lembro de acordar, não encontrar minha mãe em casa como de costume e receber a notícia de que ela estava com o bebê. Mas eu queria porque queria ver minha mãe. Então minha tia me levou até o hospital, eu vi minha mãe e minha irmãzinha na caminha tomando soro com remédio. Achei que eu tinha ido lá resgatar minha mãe e que ela voltaria para casa comigo. Quando descobri que eu iria embora com minha tia e minha mãe ficaria lá, comecei a chorar. Muito! Lembro-me da cena: eu e minha tia no ponto de ônibus da Praça Buenos Aires. E eu chorando. Muito! Minha tia não sabia mais o que fazer. Acho que ela queria me esganar ou abrir um buraco para se enfiar. Não sei o que ela sentiu, mas sei que ela se lembra da cena tão bem quanto eu... Um dia desses, há bem pouco tempo ela me disse: "Você se lembra como você chorou naquele dia em que a gente foi visitar sua irmãzinha no hospital?" Nem tive coragem de perguntar se ela sabia porque eu chorava tanto... Ficou por isso mesmo.

O tempo foi passando e o ciúme ia me corroendo. Eu era terrível, irriquieta, levava bronca o tempo todo; não dava sossego pra ninguém. E a Belinha da nona continuava belinha. Chegou o dia de eu ir para a escola. Grande dia! Meu primeiro dia de aula, uniforme lindo, novinho, laço de fita branca no cabelo, engomada com capricho, sapato novo, engraxado e brilhante. Ah! O cheirinho de couro da mala nova, o estojo cheio de lápis de todas as cores, o caderno encapado pelo meu pai, com desenho na primeira página. Tudo perfeito! Até o momento em que minha mãe me avisou que eu iria para escola com a minha vizinha... Ela não podia me levar. Adivinha por quê? Porque tinha que cuidar do bebê (já nem tão bebê assim àquela altura do campeonato). Ai, sempre esse bebê intrometido! E lá fui eu, primeiro dia de aula, levada pelas mãos da vizinha que tinha um filho da minha idade na mesma escola. E justamente naquele primeiro dia, em que eu queria que minha mãe me visse orgulhosa entrando na escola, com minha mala e meu uniforme impecáveis. Mas ela ficou em casa com o bebê. E eu não podia chorar e nem mostrar qualquer fraqueza porque eu era a valentona. Minha irmã mais velha chorava porque não queria ficar na escola, chorava para tomar injeção, mas eu não! Eu ia para a escola sem chorar. Na verdade, eu não queria chorar. Eu queria muito ir à escola. Mas eu queria que minha mãe tivesse presenciado isso, pelo menos no primeiro dia. E por isso, sim, eu tinha vontade de chorar. Durante algum tempo eu tentei fazer minha mãe me levar à escola, uma vez que fosse. Lembro-me de um dia fingir que estava com dor de barriga e de ter pedido que ela fosse comigo para falar com a professora. Mas não deu certo. Minha mãe, muito prática, escreveu um bilhete e mandou que eu o entregasse à professora. Eu nem entreguei, porque não estava com dor de barriga mesmo. Bem, com minha avó isso dava certo. Quando eu dizia que estava com dor de barriga, ela ia até o quintal, pegava umas folhinhas de hortelã e me fazia um chá. Hoje eu sei que ela entendia o que eu queria e fazia para me agradar. Eu adorava aquilo. Mas com minha mãe não funcionou... Até que resolvi desistir. Já no segundo ano eu sabia o caminho da escola e podia até ir sozinha (algumas vezes me atrevi a voltar sozinha para casa). A escola ficava a alguns quarteirões de casa eu já ia e voltava com minha irmã mais velha. Minha mãe nunca precisou me levar ou me buscar na escola. Porque eu não chorava...

Com o passar do tempo, eu continuava a ser a terrível filha do meio, entre duas crianças calminhas e comportadinhas. A Belinha, sempre belinha. Aprontou muito pouco na sua infância comportada, mas quando o fez, realmente caprichou. Um belo sábado, estávamos na cozinha (eu, minha mãe, minha irmã mais velha e meu pai) e a Belinha estava na sala, quietinha. Ela nunca aprontava e ninguém se preocupava em olhar o que ela estava fazendo. Mas naquele dia, ela tinha um lápis na mão e descobriu que atrás do encosto das cadeiras da sala de jantar o plástico esticado podia ser furado, fazendo um barulhinho engraçado. Ela tinha cinco anos, mas sabia que o que estava fazendo não seria aprovado pelos mais velhos. Como era uma criança muito inteligente e criativa, bolou uma estratégia para a traquinagem da sua vida: trancou todo mundo na cozinha para poder trabalhar sossegada. E assim, furou todas as cadeiras! Infelizmente, para nós que ficamos trancados, seu raciocínio estava muito à frente da sua capacidade motora, ou seja, de alguma forma ela conseguiu trancar a porta, mas depois, não conseguiu abrir. Entre a sala em que ela estava e os prisioneiros que ela fez só existia um vitrô (que obviamente ela não alcançava) e que nos dava muito pouca visão. Ela não conseguia tirar a chave para nos entregar, não conseguia virá-la para abrir a porta e ficou muda e assustada em um canto, desconfiada de que tinha feito uma terrível, como direi, caquinha! E nós todos, trancados na cozinha... Eu tinha uns dez anos e, na verdade, achava aquilo tudo uma aventura divertida. Depois de algum tempo, minha mãe teve a idéia que garantiria o nosso resgate: foi até o muro do quintal, conseguiu chamar a vizinha e pediu que ela telefonasse para minha avó, que nessa época morava a alguns quarteirões de casa. Felizmente, meus avós tinham uma chave reserva e meu avô veio até nossa casa para nos libertar. Não me lembro, mas acho que minha pequena irmãzinha não levou nem mesmo uma bronca. E nem precisava, porque depois disso, ela voltou a ser a criança exemplar que gostava de ler seus livrinhos, desenhar, brincar com suas bonequinhas, sempre sem perturbar ninguém.

Hoje a Belinha da Nona cresceu e arrisco dizer que se tornou uma das mulheres mais fortes que já conheci. Uma irmã carinhosa e presente, que talvez seja a mais forte das quatro irmãs... a Belinha da Nona. Uma mulher que cuida da casa, dos filhos, do marido e da sua arte, com muita competência. Embora minhas outras irmãs também sejam muito talentosas, ela parece ter sido a que mais herdou de nosso pai a veia artística, aliada à paciência oriental e ao capricho extremo com os mínimos detalhes. É também a que mais cuida de manter as tradições da família, a que se lembra de todas as datas, a que mais se empenha em agregar sempre e mais as quatro irmãs e suas famílias. É claro que o ciúme passou. Ele foi substituído pelo respeito que sinto por ela. Hoje ela é uma grande amiga, uma irmã muito amada, assim como minhas duas outras irmãs. É parte da família da qual me orgulho muito de fazer parte, pela união, pelo respeito mútuo e pelo amor. Uma família pela qual agradeço todos os dias. Bem, minhas irmãs sabem o quanto as amo e respeito e o quanto elas são importantes para mim, mas não custa deixar mais uma vez aqui registrado esse sentimento! Valeu, mosqueteiras! J

© Direitos Reservados

Proibida a reprodução total ou parcial sem prévio consentimento da autora.

Escrito e publicado por Christine Jz.

terça-feira, 16 de junho de 2009

UM ESTRANHO CASO...

Sou um estranho caso, sim. Resolvi prestar vestibular e fazer uma nova faculdade numa idade em que a maioria das pessoas, após décadas de trabalho, está se aposentando para curtir a vida e não pensar mais em estudar. Nada contra. É o descanso merecido de quem já batalhou muito pela vida afora. Eu também pensava em fazer isso. Mas ao atingir essa idade, percebi que eu ainda tinha uma porção de projetos, uma porção de coisas que eu ainda queria aprender e pensei: “Por que não? O que me impede? Se eu quero aprender e existe quem queira e possa me ensinar, por que não? Vamos lá!” E eu fui. Resultado: sou uma aluna de faculdade diferente; sou mais velha do que a maioria dos pais dos meus colegas e mais velha do que a maioria dos meus professores. Mas quando estou lá, no meio dos novos amigos que fiz, no meio dos professores que têm o que me dizer, nem me lembro disso. Eu me sinto bem. Sei que muita gente me olha e pensa: “Por que alguém com essa idade ainda quer estudar? O que ela vai fazer com esse diploma quando conseguir chegar lá?” Eu não sei responder. Talvez eu consiga fazer algo de bom e até diferente daquilo que irão fazer aqueles que saem da faculdade com 20 e poucos anos, aliando os meus estudos atuais à experiência que já acumulei ao longo das décadas a mais que vivi. Talvez não. Quem sabe…
Mas prefiro não antecipar nada. Prefiro não pensar no que vai acontecer daqui a um, dois ou dez anos. Apenas quero viver um dia de cada vez, tirando de cada um o prazer de ainda ter a chance de aprender coisas novas. Sim, esse é um grande prazer. Dou um imenso valor ao fato de ainda poder estudar, agradeço todos os dias pela chance que tenho de fazer novos amigos, de conhecer as pessoas incríveis que conheci e continuo conhecendo ao longo dessa jornada: colegas, professores e tantas mais, que cruzam meu caminho porque estou por lá e que eu jamais iria conhecer de outra forma. Minha embalagem envelheceu, não há como negar, mas a minha vontade de aprender, não! Ainda me sinto com a mesma ânsia de saber que tinha aos 5, 10, 20, 30, 40… E não se trata de aprender para guardar para mim, aprender simplesmente para acumular mais conhecimento e me sentir mais " inteligente". Não é nada disso. Trata-se da vontade de aprender para ter mais o que ensinar. Sempre gostei de ensinar e, fazendo um balanço da minha vida, percebo que passei quase toda ela fazendo exatamente isso. Adoro transmitir o que aprendo e, exatamente por isso, tenho um respeito enorme para com aqueles que me ensinam hoje o que um dia aprenderam. Eu os respeito, admiro e sou muito grata. E não falo só de professores; todos nesta vida têm algo a ensinar. Então percebo como o dia-a-dia é importante, como o fato de sair de casa, encontrar pessoas, conversar, viver, nos dá alento. E ninguém precisa esperar por um diploma para fazer isso. É algo que pode (e deve!) ser feito a cada dia de nossas vidas. Dividir, compartilhar o que sabemos. O que aprendo hoje, não só na sala de aula, mas também na convivência com as pessoas, é uma coisa a mais que posso ensinar amanhã. É o eterno aprender: aprender, como se fosse viver para sempre.
Enfim, como me sinto sempre disposta a aprender, acordo cedo todos os dias para ir à faculdade, estudo com prazer e aprendo muita coisa boa, às vezes me esqueço que minha embalagem denuncia minha idade cronológica. Lá no meu íntimo, muitas vezes me esqueço que meus cabelos estão ficando brancos e que meu rosto está ficando cheio de rugas, até que alguém me lembre (às vezes, com um simples olhar). Mas não tenho do que me queixar: meus amigos, em sua grande maioria, me tratam com muito respeito e carinho. Entre os amigos e professores que encontro regularmente, que já me conhecem há mais de três anos, eu fico totalmente à vontade. Mas não posso negar que a coisa fica estranha quando apareço em um novo grupo e enfrento mais uma vez os olhares de estranheza daqueles que me vêm pela primeira vez nessa situação de estudante de cabelos brancos. Senti-me assim em meio aos alunos que vão fazer intercâmbio. Isso também faz parte das coisas que tenho a chance de fazer e que vou aproveitar. 
Da mesma forma que estudo aqui no meu país, entre pessoas mais novas, vou estudar no exterior. Eu sei que vai começar tudo de novo. As pessoas vão me olhar daquele jeito estranho, tentando entender o que faço ali, de tanta gente mais jovem do que eu. Nessas horas, chego a ficar um pouco triste. Mas isso, de forma alguma vai diminuir minha vontade de aprender e de usufruir novas experiências tão importantes. Afinal, é impossível explicar para cada um que tenho muita disposição, que já estudei muitas coisas e quero continuar estudando, que tenho muita vontade de aprender e que ainda pretendo fazer muita coisa útil nesta vida. Deixo que me olhem e procurem suas próprias explicações. Desconsiderando os cabelos brancos e as rugas na face, esquecendo totalmente a embalagem, lá no fundo de minha massa cinzenta, ainda me sinto muito jovem. Prefiro pensar que sou um tipo de Benjamin Buttom: que estou ficando mais jovem a cada dia que passa, que vou ter muito tempo ainda para colocar em prática tudo o que aprendo hoje. É uma questão de vontade, de ânsia de viver e de aprender. É isso que nos torna mais jovens a cada dia.

© Direitos Reservados
Proibida a reprodução total ou parcial sem prévio consentimento da autora.
Escrito e publicado por Christine Jz.

domingo, 10 de maio de 2009

SEGUNDA(S) FAMÍLIA(S)

Quero falar de uma coisa especial, algo muito marcante na minha infância: o que eu considero a segunda família que tive. Trata-se da família de meus tios – irmã de minha mãe e seu marido – e a sua filha, um pouco mais nova do que eu. Analisando hoje, como adulta, penso que minha infância não deve ter sido uma coisa muito fácil. Meu pai era operário, acordava às cinco da manhã e ia embora para o trabalho com sua marmita debaixo do braço, voltando somente à noitinha. Ele não tinha muito tempo para nós, mas o pouco que pudemos conviver nesse período e também mais tarde, depois de sua aposentadoria, foi algo extremamente marcante. Isso merece um texto à parte, pois meu pai era uma pessoa muito especial e poucos devem ter conhecido ou percebido sua verdadeira essência, pois ele era uma pessoa muito calada e discreta. Enfim, o salário era pouco, tínhamos o essencial para viver dignamente, mas só o essencial, sem que fosse permitida qualquer extravagância, qualquer compra fora do Natal (graças ao 13º salário), qualquer refeição fora de casa. Minha mãe não se conformava muito com a situação, sofria com tudo isso, mas, apesar das dificuldades, morávamos na casa de nossos avós maternos, por isso nunca nos faltou um lugar decente e gostoso para viver. O bairro era bom, os vizinhos ótimos, a escola pública próxima de casa era excelente e nossa casa era grande e tinha um quintal enorme. Também nunca nos faltou comida; tudo simples, mas tudo bom e saudável e meu avô sempre estava ali para ajudar no que quer que fosse necessário e importante (o nosso pediatra particular, por exemplo). Minha mãe sentia-se com o orgulho ferido e, além de nunca ter aceitado ajuda alguma de meu avô, ainda o culpava por não ter permitido que ela tivesse estudado além do primário e acabava sendo intolerante e impaciente com ele, o que gerava muitas discussões que nós, crianças, éramos obrigadas a assistir. Além disso, meu avô implicava com a minha avó o tempo todo e eles também criavam situações de tensão.

Parece um cenário extremamente complicado, que poderia ter deixado marcas negativas em qualquer criança. Mas não foi. Quando penso na minha infância com o coração e não com a razão, só tenho lembranças daquilo que foi bom, de tudo de bom que nos ensinaram, de como nos amaram e nos ensinaram a amar. Sei que minhas três irmãs sentem o mesmo e a prova disso é que nos damos muito bem, nos amamos muito e nos respeitamos, graças a tudo aquilo que nos foi ensinado, graças aos valores que nos foram transmitidos, independentemente de qualquer atrito ou situação difícil pelas quais eles tenham passado e das quais, penso, ninguém está livre. Minha infância foi agradável, no fim das contas: eu morava em um bairro de imigrantes, que por si só já funciona como uma grande família e o que mais me foi ensinado nesse ambiente, foi a solidariedade. Eu tinha muitos amigos, brincava livre na rua até a hora que quisesse, ia a pé para a escola, ia sozinha à casa de amigos, ia a pé ao cinema, à padaria, à doceira, o que nos dava uma sensação de liberdade que não conseguimos dar a nossos filhos hoje. Portanto, acho que posso me sentir uma pessoa que teve uma infância bastante privilegiada, embora simples, pois eu tinha várias figuras adultas ao meu redor além de meus pais: dentro de casa, meus avós; na rua, vários outros avós que se sentavam com suas cadeiras nas respectivas portas das casas e tomavam conta das crianças que brincavam na rua.

Mas quero falar de outras figuras adultas que marcaram muito a minha infância e que foram como verdadeiros pais: meus tios. Era comum, desde pequena, eu ir para a casa deles e ficar por lá alguns dias, nos fins-de-semana ou nas férias. O domingo era especialmente gostoso, porque a gente ia passar o dia no clube e eu sempre adorei isso (algo que faço até hoje). Minha tia fazia uma cesta cheia de sanduíches e frutas e a gente ficava no clube até à noitinha. Eu me divertia muito, pois sempre gostei da vida ao ar livre, de natureza e de esportes. Além disso, eles me levavam para sua casa de campo, na montanha, lugar que eu amava e ainda amo e para onde eu acabava indo muitas vezes ao ano. A gente ia pelo menos uma vez por mês para lá, em determinada época e, nas férias de verão, chegávamos a ficar quase dois meses direto. No caminho para lá, que durava de três a quatro horas por uma estrada cheia de curvas intermináveis, eu me lembro que ia cantando todo o repertório que eu conhecia. E o incrível era que meus tios não me mandavam calar a boca! Talvez eles não tivessem idéia do quanto aquilo tudo era importante para mim. Eu morava numa casa cheia de gente, com os pais, três irmãs e os avós. Dividia meu quarto com três irmãs e sofria, porque era muito menos bagunceira do que elas e nunca conseguia ter as coisas do meu jeito. Na casa dos meus tios, eu encontrava um mundo alternativo, uma família alternativa, uma outra experiência: eu tinha uma prima com quem brincar, que era tão levada quanto eu, e adultos que eram bem mais tolerantes que meus pais com as nossas travessuras; lá eu tinha uma estante repleta de livros para escolher e eu amava ler tanto quanto brincar de bola ou andar de bicicleta. Quando eu não estava brincando, pegava um livro e passava horas devorando-o. Lembro-me que minha prima tinha uma malinha de metal (uma antiga lancheira) cheia de carrinhos coloridos e que a gente virava o quarto de brinquedos de pernas para o ar: mexia em tudo, mudava os móveis de lugar, fazia cabaninhas de lençóis. Era um quarto próprio para brincar, por isso a gente podia ter mais liberdade de fazer uma certa bagunça inocente. Não que viver na minha casa não fosse bom, ao lado da minha família. Claro que era (como já disse no início e que vai merecer um texto à parte), quando eu ficava longe, tinha muita saudade da minha casa, mas isto era algo mais, uma experiência diferente e, que por isso, era divertida. A gente ficava conversando até tarde na cama, contando histórias, contando piadas ou lendo gibis. Tinha um piano na sala, que a gente (eu, pelo menos) achava que tocava. Eram algumas melodias, apenas, mas repetidas à exaustão. Isso devia deixar a vizinha maluca, mas eu tocava o meu repertório de três ou quatro musiquinhas (incluindo, é claro, “O Bife”) até cansar.

Minha tia era bem menos severa do que minha mãe; eu não me esqueço, por exemplo, de uma vez em que ela me ensinou e deixou que eu fizesse bolinhos de arroz sozinha, numa idade em que minha mãe não permitia nem que eu chegasse perto do fogão. Eu gostava da rotina da casa da minha tia, do perfume gostoso que aquela casa sempre tinha (até hoje não descobri como ela consegue, mas sua casa é sempre perfumada), de ir à feira com ela em um bairro diferente do meu (embora deva ressaltar que também adorava ir à feira com a minha mãe, adorava ajudar a fazer as compras, a puxar o carrinho, me sentir útil, enfim). Além de tudo, o meu tio parecia gostar muito de mim e eu gostava de conviver com ele, um siciliano de raciocínio rápido, uma pessoa perspicaz e inteligente. Ele era engraçadíssimo quando contava casos e piadas; era extremamente falante e adorava conversar comigo. Estimulava meu gosto pela leitura, me ensinava truques de cartas, conhecia todos os enigmas lógicos do livro “O homem que calculava” de Malba Tahan e adorava me desafiar a encontrar as respostas. E eu gostava disso. Meu tio gostava da minha energia, da minha disposição para a leitura e para aprender. Ele também era uma pessoa “energética”. Como bom siciliano e fazendo jus à fama que a eles é atribuída, tinha suas explosões e aí o melhor a se fazer era sair de perto. Muita gente tinha medo dele nessas horas, mas eu nunca tive, pois conhecia a pessoa que estava por trás daquela tempestade e sabia que aquilo passava rapidamente. Infelizmente ele já se foi, mas minha tia e minha prima ainda estão aqui para que eu possa lhes contar como eles foram importantes na minha infância.

Ainda hoje, muitos perfumes que sinto me fazem lembrar da casa de minha tia e da vida paralela que vivi ali. Às vezes eu abria o guarda-roupa só para sentir o cheiro gostoso que saia dali de dentro. Quando sinto um perfume que me lembra daquele da infância, tento descobrir o que é, para resgatar o cheiro, mas até hoje não consegui descobrir exatamente o que era: o que mais se aproximou, foi o de flores de laranjeira. Mas pode ser limão, jasmim... Até hoje não sei se ela perfumava as gavetas com sabonete, mas me lembro bem do sabonete “Regina”, quadradinho e branquinho, com um desenho em preto e branco da Catedral de Milão na embalagem. Consigo sentir seu cheiro de memória, mas nunca consegui encontrar nada igual a ele para reavivar com esse sentido aquela fase da minha vida. Lembro-me que quando eu freqüentava a piscina da prefeitura perto de casa, por volta dos 4 anos de idade, era esse o sabonete que eu levava. Como seria bom se eu encontrasse algo com aquele “cheiro de infância” hoje! Não me canso de procurar.

Lembrando de brincar com minha prima, lembrei-me de outra casa de pessoas da família que freqüentei muito e que também marcou minha infância. O irmão de minha mãe morava com sua esposa e dois filhos, como idades regulando com a minha, na mesma rua, numa pequena vila. E eu ia muito à casa deles também e encontrava lá muitas coisas que não tinha em casa. Minha tia, neste caso, também era bem mais tolerante do que minha mãe com as bagunças infantis. Coisas que me lembro desse tempo: molhar o quintal de cimento queimado, encher de sabão e ficar escorregando de barriga, brincar de autorama, de boneca que trocava roupinhas (a precursora da Barbie), comer biscoito de polvilho quentinho, saído do forno da fábrica logo ali na esquina, comer pão fresquinho com mortadela e guaraná Antarctica de garrafinha verde e ouvir muita música na vitrola que ficava debaixo da escada, principalmente Beatles, por quem minha prima era absolutamente apaixonada. Ela tinha todos os discos e também posters na parede do quarto (o que era moda nessa época). Meu tio comprava muitos discos e a gente ouvia muita música. Era super divertido. Hoje sei que era música da melhor qualidade, mas eu nem sabia avaliar muito isso na época. Eua apenas gostava de ouvir.

Na verdade, parece que a gente tinha, naquela época, um núcleo familiar principal e vários outros que também contribuíam para a nossa formação. As pessoas moravam relativamente perto, se visitavam, as crianças tinham certa liberdade para andar sozinhas, para ir à casa de tios, de avós, de amiguinhos do bairro. Não sei se as crianças de hoje têm esse privilégio, mas eu tive e dou a isso um enorme valor. Espero que essas pessoas que marcaram tanto essa fase da minha vida saibam como foram importantes para mim e o quanto eu sou grata por terem me proporcionado essa felicidade, essa infância tão gostosa!

© Direitos Reservados

Proibida a reprodução total ou parcial sem prévio consentimento da autora.

Escrito e publicado por Christine Jz. 

sábado, 25 de abril de 2009

MA VIE

Este é um texto escrito no segundo ano do francês. Já está um pouco melhor quando comparado àquele do primeiro ano... Mais vocabulário e vários tempos verbais...rsss Tem a  tradução no final, que deixa bem claro que quando traduzimos o texto de um aprendiz para a língua materna... fica mesmo parecendo a redação de uma criança...


MA VIE

Aujourd’hui, quand je pense à toutes les choses que j’ai fait pendant toute ma vie, je trouve que j’ai eu une véritable bonne vie et que j’ai fait plusieurs  choses différentes, concernant à tous les sujets que j’aimais et que j’aime encore: la science, la musique, la littérature et le sport. Il y a, en fait, seulement peu de choses que j’aurais fait si j’avais eu du temps, mais ce sont de choses que je ne regrette pas de n’avoir pas fait, parce que je sais que c’est impossible qu’une personne puisse réussir de faire tout ce qu’elle veut faire pendant sa vie entière. Bref, ça m’est égal, par exemple, si pendant la vie on fait dix ou cent choses. L’important, à mon avis, c’est qu’on fasse bien fait ce qu’on aime et qu’on soit heureuse en les faisant.
Ah! Je me souviens de mon enfance; j’avais décidé que j’aurais six enfantes et que je serais une personne très importante dans la recherche scientifique. Bon, j’ai eu seulement deux enfants et je pense aujourd’hui que si j’avais eu les six enfants que j’avais pensé avoir, je n’aurais pu pas avoir étudié et avoir travaillé comme j’ai fait vraiment pendant ma vie entière. Je suis très heureuse aujourd’hui d’avoir mes deux enfants et je dis que tous le deux sont merveilleux. C’est très bon!
Je voudrais qu’ils sachent qu’ils sont les bijoux les plus précieux que j’ai aujourd’hui et je sais qu’ils vont savoir une fois encore em lisant ces mots. Ils savent, mais j’aimerais le répéter mille fois chaque jour.
En parlant d’une autre rêve de mon enfance, je pense avec plaisir que je voudrais avoir été une scientiste célèbre, celle que trouverait la guérison de plusieurs malades. J’ai fait de la recherche pendant plusieurs années et j’ai trouvé beaucoup des choses. Je pense, aujourd’hui que je devais avoir fait plus de recherches, mais je ne regrette pas d’avoir laissé mes études pour faire beaucoup d’autres choses très importantes pour moi aussi.
La musique, par exemple ! Comme je suis heureuse pour avoir pu chanter et jouer de la guitare. Ça me gêne qu’on pense que j’aie perdu le temps. Au contraire, j’ai aujourd’hui la sensation agréable d’avoir reçu des cadeaux : ce sont la musique dans ma vie et tous les amis que je me suis faits.        
Aujourd’hui j’étudie encore et ça c’est une manière de rester toujours vive, une façon de maintenir mon cerveau actif. J’aime étudier, j’aime apprendre toutes les choses que je  puisse apprendre et je suis certaine que je vais étudier et travailler heureusement  jusqu’à ma mort.

TRADUÇÃO- MINHA VIDA

                Hoje, quando penso em tudo o que fiz em toda minha vida, acho que tive uma vida realmente muito boa e fiz muitas coisas diferentes, que têm a ver com tudo o que eu amava e ainda amo: a ciência, a música, a literatura e o esporte.  Na verdade, há apenas umas poucas coisas que eu gostaria de ter feito, se tivesse tido tempo, mas são coisas que não me arrependo de não ter feito, pois sei que é impossível que uma pessoa consiga tudo o que tem vontade de fazer ao longo de toda a sua vida. Ou seja, para mim, pouco importa se ao longo da vida uma pessoa faz dez ou cem coisas. O importante, na minha opinião, é que ela faça bem algo que ama e que seja feliz ao fazê-lo.
                Ah! Eu me lembro da minha infância; eu resolvi que teria seis filhos e seria uma cientista famosa. Bem, eu tenho dois filhos e hoje penso que se tivesse tido os seis filhos que eu tinha planejado, eu não poderia ter estudado e trabalhado como eu realmente fiz ao longo da vida. Sou hoje muito feliz com os filhos que tenho e acho que eles são maravilhosos. É bom demais!
                Eu gostaria que eles soubessem que são as jóias mais preciosas que possuo hoje e eu sei que eles saberão, quando lerem essas palavras. Eles sabem, mas eu gostaria de repetir mil vezes por dia.
                Falando de um outro sonho de minha infância, penso com prazer que gostaria de ter sido uma cientista famosa, que iria descobrir a cura de doenças. Eu fiz pesquisa durante vários anos e descobri uma porção de coisas. Eu acho que deveria ter feito mais pesquisas, mas não me arrependo de ter deixado meus estudos nessa área para fazer uma porção de outras coisas também muito importantes para mim.
                A música, por exemplo! Como sou feliz por ter podido cantar a tocar violão. Fico chateada quando pensam que eu perdi meu tempo com isso.  Pelo contrário, hoje eu tenho a sensação agradável  de ter recebido presentes: a música na minha vida e todos os amigos que fiz.
                Hoje eu continuo estudando e essa é uma maneira de me manter sempre jovem, uma maneira de manter meu cérebro funcionando. Eu adoro estudar, adoro aprender tudo que posso e tenho a certeza de que vou trabalhar e estudar alegremente enquanto eu viver. 

© Direitos Reservados
Proibida a reprodução total ou parcial sem prévio consentimento da autora.
Escrito e publicado por Christine Jz. 

SOMEWHERE OVER THE RAIL

Em francês, dizer que a vida de alguém é "métro-boulot-dodo" (metrô-trabalho-dormir) significa que é uma monotonia, que nada acontece além de ir ao trabalho, voltar para casa, dormir e recomeçar tudo no dia seguinte.  Esse poema fala disso, de alguém cuja vida é uma eterna repetição (une rengaine)... Um "strapontin" é o banquinho dobrável do transporte público. Algumas coisas não ficam muito boas na tradução, mas ela vai lá no final...

Sa vie est une rengaine,
Métro-boulot-dodo
Mais il ne s’agace pas...
Un strapontin lui est suffisant,
Pendant qu’il mange le croissant.

La pointeuse est toujours là.
Il ne parle à personne,
Il achemine le courrier,
Il rentre.

Le lendemain...
Réveil, robinet, rasoir,
Boutonner, lacets, machine pour composter le billet,
Acheminer le courrier.

Métro... Liège...
Les portières du métro sont ouvertes.
Il ne voit rien... le quai est vide.
Il essaye de sortir... et il sort.

Il est attrapé dans un piège?
Il fait un cauchemar?

Il veut se réveiller...
Métro-boulot-dodo,
Une autre fois...

Tradução
Sua vida é uma eterna repetição
Metrô-trabalho-dormir
Mas ele não se incomoda...
Um banco secundário lhe basta 
Enquanto ele come seu croissant

O relógio de ponto está sempre lá
Ele não fala com ninguém
Distribui a correspondência
Volta para casa

No dia seguinte...
Despertador, torneira, barbeador
Abotoar, amarrar sapatos, máquina de bilhetes do metrô
Encaminhar a correspondência

Metrô... Estação "Liège"
As portas se abrem
Ele não vê nada... A plataforma está vazia.
Ele tenta sair... E sai.

Alguém lhe pregou uma peça?
Ele está tendo um pesadelo?

Ele quer acordar...
Metro-trabalho-dormir
De novo...

© Direitos Reservados
Proibida a reprodução total ou parcial sem prévio consentimento da autora.
Escrito e publicado por Christine Jz. 

quinta-feira, 16 de abril de 2009

MON BALCON

Esta é uma redação que fiz no meu primeiro ano de francês. Olhando para ela hoje, percebo o quanto a gente precisa ter a humildade de voltar a ser criança ao aprender uma língua estrangeira. Parece uma redação de uma criança que está começando a ser alfabetizada (e não deixa de ser!). Eu só conseguia me expressar com verbos no presente do indicativo e meu vocabulário era bastante restrito. Mas, o curioso é notar que, ainda assim, é possível  expressar alguma emoção (um desafio e tanto tentar se expressar usando apenas o presente do indicativo! Na língua materna, não fazemos isso nem mesmo quando somos crianças aprendendo a falar…) Coloquei aqui como uma curiosidade, com a tradução logo a seguir... Hoje, já consigo usar todos os tempos de verbos que necessito… rsss Futuramente, publicarei algo menos infantil…rsss Prometo!
Je suis sur mon balcon et je regarde mon jardin. Je suis seule. J’écoute les oiseaux et je regarde la beauté de la nature. Il pleut et je regarde la pluie qui tombe sur les branches des arbres. J’aime la nature et quand il pleut, j’aime voir les petites gouttes de pluie sur les feuilles des arbres. Elles sont comme petites larmes. Mais je ne pense pas que les arbres sont tristes. Au contraire, je pense qu’elles sont très heureuses et qu’elles remercient le ciel et ses nuages que leur donne l’eau précieuse que les nourri. Les arbres ont besoin de la pluie.
Alors, je me souviens de ma mère et de mon père. J’aime beaucoup ma famille, mais malheureusement mes parents ne sont pas ici avec moi maintenant. Je me souviens de tout. Je suis encore une petite fille. Ma mère et mon père sont ici avec moi, sur mon balcon et ils regardent la pluie aussi. Je fais un voyage jusqu’à mon enfance. Ma mère chante une chanson et elle est très heureuse. Comme moi, elle aime chanter et elle aime la nature. Je sais qu’elle aime voir la pluie qui tombe sur les arbres. Après de chanter, elle me raconte une histoire. J’ai six ans et elle me raconte l’histoire des trois petits couchons qui habitent la petite ferme de  mon grand-père. J’aime cette histoire ! À notre côté, mon père fait des bricolages. Mon père est mon artiste ! Il m’aide avec mes tâches d’école. Il fait plusieurs dessins colorés sur mes cahiers que j’aime. C’est grâce à lui que mes cahiers sont très jolis.
Quelques fois nous chantons ensemble : mon père, ma mère et moi. Mon père et moi, nous jouons de la guitare. Il chante aussi mais il préfère les musiques romantiques tandis que ma mère préfère les musiques bruyantes et gaies. Je me souviens aussi de notre famille réuni pendant les repas : un très agréable moment de nos vies, que je n’oublie jamais. Aujourd’hui mes parents sont présent seulement dans ma mémoire. Donc, ils sont toujours avec moi.  Je les vois dans mes rêves, je les embrasse et ça me suffit. C’est n’est qu’un rêve, mais quand je me réveille, je suis  heureuse et je sais qu’ils me regardent et qu’ils se souviennent de moi, comme je me souviens d’eux.

 MINHA VARANDA
  Estou na minha varanda, olhando o jardim. Estou sozinha. Escuto os passarinhos e admiro a beleza da natureza. Está chovendo e eu observo a chuva caindo sobre os galhos das árvores. Eu amo a natureza e, quando chove, eu gosto de ficar olhando as pequenas gotas de chuva que caem sobre as folhas das árvores. São como pequenas lágrimas. Mas as árvores não estão tristes. Pelo contrário, elas me parecem muito felizes, agradecendo ao céu e às nuvens por lhes fornecer a água preciosa que as alimenta. As árvores precisam da chuva. 
            Então eu me lembro de minha mãe e de meu pai. Eu adoro minha família, mas, infelizmente, meus pais já não estão mais aqui comigo. Eu me lembro de tudo. Sou novamente criança, meus pais estão aqui na minha varanda e olham a chuva também. Eu faço uma viagem de volta à infância. Minha mãe canta uma canção e está muito feliz.  Assim como eu, ela adora cantar e adora a natureza. Eu sei que ela adora olhar a chuva caindo nas árvores. Depois de cantar, ela me conta uma história. Eu tenho seis anos e ela me conta a história dos três porquinhos que moravam no sítio do meu avô. Eu adoro essa história.  Ao nosso lado, meu pai faz seus trabalhos manuais. Meu pai é o meu artista! Ele me ajuda a fazer os trabalhos de escola e faz desenhos coloridos na primeira página do meu caderno que eu adoro. É por sua causa que meus cadernos são tão bonitos. 
            Às vezes eu, meu pai e minha mãe cantamos juntos. Eu e meu pai tocamos violão. Ele também canta, mas prefere as músicas românticas, enquanto minha mãe prefere as músicas mais barulhentas e alegres. Eu me lembro também de minha família inteira reunida na hora das refeições: um momento muito agradável de nossas vidas, que eu jamais vou esquecer. 
            Hoje, meus pais estão presentes apenas na minha memória, por isso, estão sempre comigo. Eu os vejo nos meus sonhos, os beijo e isso me basta. São apenas sonhos, mas eu acordo feliz, pois sei que eles me vêem e que se lembram de mim, assim como eu me lembro deles. 



© Direitos Reservados
Proibida a reprodução total ou parcial sem prévio consentimento da autora.
Escrito e publicado por Christine Jz. 

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O PRAZER DA LEITURA

Por mais que eu recue no tempo, não consigo me lembrar de uma época de minha vida em que eu não soubesse ler ou escrever. À minha volta, sempre existiu um “mundo a ser lido”. Explico: ninguém me ensinou a ler ou a escrever. Tudo começou, eu me lembro, quando eu ouvia nomes de produtos no rádio e na TV e relacionava com as marcas que eu via escritas. Eu devia ter uns três anos. Para mim, aquilo tinha uma lógica e eu comecei a associar os desenhos das letras aos sons que eu ouvia. Então, minha irmã mais velha começou a ser alfabetizada (ela tinha seis anos e eu quatro) e eu ficava atenta às lições que ela fazia, às letras que ela desenhava e a imitava. Pegava a cartilha dela, folheava e… voilà! 

Não sei dizer como, mas, de uma hora para a outra, eu lia e escrevia e achava aquilo tudo maravilhosamente simples e mágico. Antes disso (antes dos três ou quatro anos), não me lembro de mais nada. Portanto, não me lembro do tempo em que eu não sabia ler ou escrever. Para completar meu “aprendizado”, eu brincava de escolinha com minha irmã e ela me fazia ditados intermináveis, tanto no papel quanto na enorme lousa que a gente tinha em casa. Antes de completar cinco anos, eu já escrevia sem erros ortográficos e lia tudo… e nenhum adulto sabia disso! A primeira pessoa a descobrir foi a minha mãe e ela levou um susto imenso. Lembro-me perfeitamente da cena: minha irmã falou para ela qualquer coisa a respeito de algo que eu havia escrito. Ela riu, dizendo que eu não sabia escrever, que eu era muito pequena. 

Minha irmã ficou brava e retrucou dizendo que eu sabia escrever, sim, e que minha mãe podia pedir para eu escrever qualquer coisa para provar que ela não estava mentindo. Então ela me pediu para escrever “martelo”. Eu escrevi e ela quase caiu da cadeira. Deixando de lado o fato de que virei quase que um “ET” no bairro e na família, isso foi para mim algo incrível. Minha casa tinha muitos livros, que tinham sido de meus tios. Eu lia todos, várias vezes. Lia poesias de Castro Alves, Gonçalves Dias (e outros românticos), a vida de Rui Barbosa (esse eu tenho guardado até hoje), as coleções de Monteiro Lobato, Julio Verne, coleção de contos de fadas, fábulas, livros de culinária, gibis variados, o almanaque do “Estadão” do meu avô (e o próprio “Estadão” que meu avô assinava e eu corria para pegar a página de “tirinhas” e de palavras cruzadas e o caderno de esportes

Quando eu tinha dez anos, minha mãe comprou as obras completas de Machado de Assis e eu li… Não entendi muita coisa, mas li… A não ser pelo jornal, eu lia tudo muitas e muitas vezes. Eu também coloria tudo, fazia bigodinhos e óculos nas fotos e escrevia várias coisas nas ilustrações, é claro, eu era criança, mas lia tudo e achava aquilo tudo fabuloso, pois eu via tantos mundos diferentes, tantas coisas novas e queria ler sempre mais e mais. Eu também subia nos muros, andava de bicicleta e corria bastante o dia todo, mas uma boa parte do dia era reservada à leitura. Um dos meus sonhos de criança era ter uma biblioteca imensa, cheia de livros (eu também queria ser bombeira, cantora, jogadora de futebol, cientista e astronauta, mas essas já são outras histórias). Voltando aos livros, eu subia no muro da casa de uma amiga só pra ver a biblioteca do vizinho. Eu queria ter uma daquele jeitinho, enorme (era a biblioteca de um casal de médicos). 

Eu fui crescendo e mantive esse gosto pela leitura e pelos livros. Nunca mais parei de ler. Assim eu aprendi a amar os livros e a leitura desde a mais tenra infância, pois percebi desde bem cedo que através deles eu podia aprender muito, fazer descobertas incríveis, conhecer o passado, conhecer outras terras e outras culturas e imaginar o futuro.  O fato de ler muito, me ensinou a escrever coisas cada vez mais complicadas, inicialmente para os meus seis ou sete anos e, depois, pela vida toda. Continuei a ler sempre. Desde que peguei o gostinho pela leitura e que descobri o quanto isso era capaz de abrir as portas do conhecimento, nunca mais parei. Ainda considero que à minha volta existe “um mundo a ser lido” e eu quero absorver dele tudo o que puder, gulosamente!  



   
© Direitos Reservados
Proibida a reprodução total ou parcial sem prévio consentimento da autora.
Escrito e publicado por Christine Jz.