quinta-feira, 5 de maio de 2011

UMA CONCHINHA/ UN COQUILLAGE

Esta história foi originalmente escrita em francês, para uma tarefa de faculdade. Mais tarde, resolvi contá-la em português. Aí vão as duas versões dessa história.

ERA UMA VEZ UMA CONCHINHA...

Uma gaveta. Dentro dela, algumas lembranças que guardo com todo o cuidado e que são revisitadas de tempos em tempos. Calmamente vou mostrando cada uma delas à minha filha, que adora escutar as histórias que elas guardam, pois representam momentos importantes de minha vida. São pequenos souvenirs de acontecimentos que deixaram em mim marcas profundas, que provocaram sensações especiais, emoções verdadeiras. Feliz da vida vou mostrando tudo a ela e contando os testemunhos que representam. Algumas lembranças remontam à minha infância, outras falam de entes queridos que já se foram. Umas fazem lembrar de um passado distante, outras de coisas mais recentes. Mas o que realmente importa é a sensação que elas despertam em mim e o que me fazem reviver. Algumas são coisas muito simples: um papel de bombom, do dia em que fui cantar em um palco pela primeira vez; uma entrada de teatro, dia em que eu e meu marido começamos a namorar; um guardanapo de um restaurante onde fui jantar com uma amiga querida que não via há muito tempo. Pode ser também uma jóia... o valor não reside no preço real, mas na emoção que está ali guardada. De repente, a atenção de minha filha se fixa sobre três pequenas caixinhas de jóias. Na primeira, uma minúscula pulseirinha de ouro, com meu nome gravado: um presente que recebi de minha avó quando eu tinha alguns dias de vida. Cada neta que nascia, recebia essa lembrança da avó e a minha está lá, muito bem guardada. Na segunda caixinha, um pequeno crucifixo de prata e macacita que pertenceu à minha outra avó. Foi dado à minha mãe que, por sua vez, me presenteou com ele. Outro souvernir importante, pois representa, ao mesmo tempo, a lembrança de minha avó e de minha mãe que já se foram. Na terceira caixinha, uma surpresa: nela, cuidadosamente acomodada sobre um tufo de algodão branco e delicado, uma pequena conchinha. Uma simples e minúscula conchinha. Diante do espanto de minha filha, eu disse:

“Este é um souvenir tão importante para mim que decidi guardá-lo assim, como uma jóia. Ele tem uma história.” E então contei a ela a sua história.

Em um belo domingo de verão, uma jovem que desejava muito ter um bebê passeava sozinha pela praia, à beira d’água. Era aquele momento lindo da manhã, em que o sol começa a despontar no horizonte e o céu fica todo colorido de tons de amarelo, rosa e azul. Ela ia olhando para o chão, chutando a água pensativa. Na verdade, embora adorasse a praia, ela estava triste naquele dia pois algo não lhe saía da cabeça. Ela queria engravidar, mas não conseguia. Ser mãe mais uma vez: esse era o seu sonho e ela já tinha tentado tanto que começava a perder a esperança de um dia poder realizá-lo. Mas, sem saber a razão, enquanto ela andava sobre a areia que refletia em pequenos grãozinhos brilhantes aquela linda luz matinal, seu olhar foi atraído para uma conchinha minúscula e solitária, da qual ela não conseguia desviar o olhar. Sem a menor explicação lógica ou plausível, ela começou a ver naquela conchinha algo como uma mensagem de que essa criança com que ela tanto sonhava chegaria em breve. Então ela recolheu a conchinha e a guardou com carinho, como um lembrete de que jamais deveria perder a esperança de ter seu bebê, pois ele viria. Pouco tempo depois ela se tornou mãe de uma linda menina.”

Ao terminar a história, disse a ela: “É por isso que esta conchinha é tão importante para mim, minha filha. Ela representa o meu bem mais precioso: na verdade, esta conchinha é você!”

Esta menina cresceu e tem hoje mais de vinte anos. Ao descobrir o que aquela conchinha representava, ela resolveu me fazer uma surpresa. Enquanto eu viajava, ela se fez tatuar a imagem desta conchinha em seu pulso esquerdo. Segundo ela, essa é uma tatuagem que irá representar para sempre a ligação entre essa mãe sonhadora e sua filha, uma filha desejada com muito amor e de quem ela não desistiu. Uma homenagem comovente, a partir de uma simples conchinha solitária, um sinal de esperança sobre a areia, em uma linda manhã de verão.

UN COQUILLAGE
Un tiroir, quelques souvenirs dedans, méthodiquement et soigneusement rangés de temps en temps. Lentement, prenant mon temps, je les montre à ma fille, qui aime écouter les histoires qu’ils racontent. Chacun parle d’un moment important de ma vie, de choses qui ont fait des marques profondes, qui ont provoqué des sensations, des émotions. Avec joie, en souriant, je transmets à ma fille (ou, au moins, j’essaie de le faire) les témoignages qu’ils représentent. Ils rappellent mon enfance ou même mes ancêtres, qu’on fait partie de ce temps-là. Ils peuvent parler d’un passé très éloigné ou d’un passé récent. Ce qu’importe, en fait, c’est la sensation qu’ils suscitent. Un papier de bonbon, un ticket de cinéma, un bijou. La valeur ne réside pas sur son prix, mais sur l’émotion qu’il déclenche. D’un coup, l’attention de ma fille est fixée sur trois boîtes de bijou. La première contient un petit bracelet en or, avec mon prénom inscrit : un cadeau de ma grand-mère quand je suis née. La deuxième contient le collier avec un crucifix qui appartenait à ma grand-mère. Le troisième… dans la boîte, soigneusement déposée sur un lit de coton blanc et délicat, avais un coquillage ; un simple coquillage. Vis-à-vis de l’étonnement de ma fille, je le dis : « Mais oui, ce souvenir est tellement important qu’il mérite d’être conservé de cette façon. Il a une histoire et je vais te la raconter »
« Un dimanche matin d’été, à l’aube, quand le lumière a une couleur jaune et rose spécial, une jeune fille qui désirait beaucoup être mère se promenait au bord de la mer. Elle était triste pour ne pas réussir à tomber enceinte, malgré tous ces tentatives. Devenir une mère d’un joli bébé était son grand désir, son grand rêve... Elle avait déjà perdu l’espoir de réaliser son rêve. Mais, sans savoir pourquoi, alors qu’elle marchait sur le sable dorée, tout d’un coup son regard a été détourné vers ce coquillage solitaire. Sans savoir la raison, elle a compris à ce moment-là que le coquillage était comme un message pour le dire que l’enfant qu’elle désirait de tout son cœur arriverait bientôt. Alors, elle l’a ramassé et, à partir de ce jour-là, elle l’a porté toujours avec elle, comme un rappel, pour le faire maintenir l’espoir, pour le faire jamais abandonner l’idée d’être mère. Et la fille est venue. C’est à cause de ça que, pour moi, elle représente mon bien le plus précieux : ce coquillage, ma fille, c’est toi ! ».

Aujourd'hui, cette fille a plus de vingt ans et au moment où elle a appri ce que le coquillage représentait, elle a décidé de faire un hommage à sa mère : elle s'est fait tatouer au poignet gauche (du côté du cœur) un coquillage exactement comme celui qui sa mère avait conservé, pour rappeler (selon elle) le lien entre elles, entre mère et fille, une fille qui avait être désirée par sa mère avec amour, de tout son cœur : un hommage émouvant, à partir d’un simple coquillage solitaire, qui était sur le sable, un certain jour d´été.

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Proibida a reprodução total ou parcial sem prévio consentimento da autora.

Escrito e publicado por Christine Jz.

5 comentários:

  1. nhóóin!!!...
    muito lindo.......!

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  2. Chris: não sabia desse seu blog, que maravilha! ... Esse seu lindo texto me fez pensar num conto que acho muito bonito, do escritor americano John Updike, acho que se chama "As mais antigas mansões"... ou algo assim (de qualquer jeito é do livro CONFIE EM MIM). Beijo - Edu.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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