segunda-feira, 13 de abril de 2009

O PRAZER DA LEITURA

Por mais que eu recue no tempo, não consigo me lembrar de uma época de minha vida em que eu não soubesse ler ou escrever. À minha volta, sempre existiu um “mundo a ser lido”. Explico: ninguém me ensinou a ler ou a escrever. Tudo começou, eu me lembro, quando eu ouvia nomes de produtos no rádio e na TV e relacionava com as marcas que eu via escritas. Eu devia ter uns três anos. Para mim, aquilo tinha uma lógica e eu comecei a associar os desenhos das letras aos sons que eu ouvia. Então, minha irmã mais velha começou a ser alfabetizada (ela tinha seis anos e eu quatro) e eu ficava atenta às lições que ela fazia, às letras que ela desenhava e a imitava. Pegava a cartilha dela, folheava e… voilà! 

Não sei dizer como, mas, de uma hora para a outra, eu lia e escrevia e achava aquilo tudo maravilhosamente simples e mágico. Antes disso (antes dos três ou quatro anos), não me lembro de mais nada. Portanto, não me lembro do tempo em que eu não sabia ler ou escrever. Para completar meu “aprendizado”, eu brincava de escolinha com minha irmã e ela me fazia ditados intermináveis, tanto no papel quanto na enorme lousa que a gente tinha em casa. Antes de completar cinco anos, eu já escrevia sem erros ortográficos e lia tudo… e nenhum adulto sabia disso! A primeira pessoa a descobrir foi a minha mãe e ela levou um susto imenso. Lembro-me perfeitamente da cena: minha irmã falou para ela qualquer coisa a respeito de algo que eu havia escrito. Ela riu, dizendo que eu não sabia escrever, que eu era muito pequena. 

Minha irmã ficou brava e retrucou dizendo que eu sabia escrever, sim, e que minha mãe podia pedir para eu escrever qualquer coisa para provar que ela não estava mentindo. Então ela me pediu para escrever “martelo”. Eu escrevi e ela quase caiu da cadeira. Deixando de lado o fato de que virei quase que um “ET” no bairro e na família, isso foi para mim algo incrível. Minha casa tinha muitos livros, que tinham sido de meus tios. Eu lia todos, várias vezes. Lia poesias de Castro Alves, Gonçalves Dias (e outros românticos), a vida de Rui Barbosa (esse eu tenho guardado até hoje), as coleções de Monteiro Lobato, Julio Verne, coleção de contos de fadas, fábulas, livros de culinária, gibis variados, o almanaque do “Estadão” do meu avô (e o próprio “Estadão” que meu avô assinava e eu corria para pegar a página de “tirinhas” e de palavras cruzadas e o caderno de esportes

Quando eu tinha dez anos, minha mãe comprou as obras completas de Machado de Assis e eu li… Não entendi muita coisa, mas li… A não ser pelo jornal, eu lia tudo muitas e muitas vezes. Eu também coloria tudo, fazia bigodinhos e óculos nas fotos e escrevia várias coisas nas ilustrações, é claro, eu era criança, mas lia tudo e achava aquilo tudo fabuloso, pois eu via tantos mundos diferentes, tantas coisas novas e queria ler sempre mais e mais. Eu também subia nos muros, andava de bicicleta e corria bastante o dia todo, mas uma boa parte do dia era reservada à leitura. Um dos meus sonhos de criança era ter uma biblioteca imensa, cheia de livros (eu também queria ser bombeira, cantora, jogadora de futebol, cientista e astronauta, mas essas já são outras histórias). Voltando aos livros, eu subia no muro da casa de uma amiga só pra ver a biblioteca do vizinho. Eu queria ter uma daquele jeitinho, enorme (era a biblioteca de um casal de médicos). 

Eu fui crescendo e mantive esse gosto pela leitura e pelos livros. Nunca mais parei de ler. Assim eu aprendi a amar os livros e a leitura desde a mais tenra infância, pois percebi desde bem cedo que através deles eu podia aprender muito, fazer descobertas incríveis, conhecer o passado, conhecer outras terras e outras culturas e imaginar o futuro.  O fato de ler muito, me ensinou a escrever coisas cada vez mais complicadas, inicialmente para os meus seis ou sete anos e, depois, pela vida toda. Continuei a ler sempre. Desde que peguei o gostinho pela leitura e que descobri o quanto isso era capaz de abrir as portas do conhecimento, nunca mais parei. Ainda considero que à minha volta existe “um mundo a ser lido” e eu quero absorver dele tudo o que puder, gulosamente!  



   
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Escrito e publicado por Christine Jz.                         

2 comentários:

  1. Essa história é realmente muito legal!!! Imagina, aprender a ler e a escrever sozinha! Parabéns!
    bj

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  2. Amiga temos muito em comum... agora sei porque me identifico tanto com vc... e o Rick é assim também...
    será que viemos do mesmo planetinha
    Alpha XB074H? ??rsrsrsrs
    beijos e parabéns pela sua clareza ...
    lindo... sou sua fã..

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